Maria
Madalena, de todas as personagens Bíblicas, talvez seja aquela personagem mais
deturpada, encoberta por inverdades divulgadas ao longo dos séculos pela
Igreja, pelos textos Bíblicos e por errôneas interpretações. Paralelamente às
inverdades, uma outra história tem sido contada de modo sublinear pela arte ao
longo de dois mil anos de história Cristã e, também, pelos textos apócrifos.
Recentemente,
o livro O Código Da Vinci, de Dan Brown, percorreu o mundo, sendo lido por
milhões de pessoas. Em meio a uma história de suspense, o autor insere algumas
das verdades, que ao longo do tempo, estavam sendo ocultas. Dan Brown nos chama
a observar o quadro da Santa Ceia, de Leonardo da Vinci, onde transparece que
uma das imagens dos apóstolos apresenta traços femininos, estando com a mesma
cor da roupa de Jesus e interligada a Ele por um grande M formado pela postura
física dos dois na pintura, em face da cor vermelha. Segundo a interpretação do
autor de O Código Da Vinci, os dois símbolos, a letra M e a cor vermelha,
indicariam ser Maria Madalena a personagem ao lado de Jesus.
Vejamos, a
seguir, a imagem da Santa Ceia pintada por Leonardo Da Vinci, no ano aproximado
de 1495, na Igreja Santa Maria Delle Grazie, em Milão, onde aparece nitidamente
o formatado de um M, seguindo-se os contornos da cor vermelha nas roupas de
Jesus e de Maria Madalena.
Em sendo
esta a interpretação correta, o que Da Vinci pretendia com a mensagem
sublinear? Da Vinci, ao que se sabe, pertencia ao Priorado de Sião, sociedade
secreta fundada em Jerusalém no ano em 1099 pelo rei Godofredo de Bouillon, com
o objetivo de guardar um segredo mantido por sua família desde há época de
Jesus. E para ajudar na manutenção e proteção desse segredo foi criada a Ordem
dos Cavaleiros Templários. O segredo que se queria, a todo custo resguardar,
dizia respeito ao Santo Graal. Da Vinci, de forma oculta na arte, guardou o
segredo, mas legando ao futuro a sua descoberta.
O Priorado
de Sião, conhecido também como Monastério do Sinai, segundo alguns
pesquisadores históricos, constituiu-se em uma sociedade secreta, relacionada à
Maçonaria e aos Rosacruzes, criada para proteger a linhagem divina. Além de Da
Vinci, participaram dessa sociedade secreta personagens históricos e escritores
importantes, tais como, Isaac Newton e Victor Hugo.
Existe uma
corrente imensa de pesquisadores que admitem que Jesus e Maria Madalena foram
casados e deste casamento pode ter nascido uma filha, que seria a descendência
real, o sangue real, o Santo Graal, e que Maria Madalena com sua filha, chamada
Sara, foram viver na França. Esse seria o grande segredo, a versão da história
guardada há milênios, ou melhor, história que se julgava devidamente sucumbida
a partir do Concílio de Nicéia, ocorrido no ano de 327 depois de Cristo. O Pintor George de la Tour, que viveu nos
anos 1593-1652, pintou Maria Madalena grávida, conforme se pode ver na
reprodução do quadro a seguir:
Com a
descoberta, por volta de 1896 em um mosteiro egípcio, do Evangelho segundo
Maria Madalena, descobriu-se uma verdade incontestável: Maria Madalena, muito
mais do que está dito na Bíblia, foi, verdadeiramente, uma discípula de Jesus,
e, segundo diversos historiadores, o discípulo mais próximo do Mestre, de seus
ensinamentos espirituais. Estes ensinamentos estavam inteiramente ligados à
espiritualidade interior, sendo o verdadeiro caminho para a evolução
espiritual, como vemos no trecho a seguir do Evangelho, segundo Maria Madalena,
em que Jesus disse:
" Todas
as espécies, todas as formações, todas as criaturas estão unidas, elas dependem
umas das outras, e se separarão novamente em sua própria origem. Pois a
essência da matéria somente se separará de novo em sua própria essência. Quem
tem ouvidos para ouvir que ouça."
Unidos
estamos todos nós, formando a essência da vida e com Deus dentro de cada um,
por isso o caminho é mergulhar em nosso interior, achar a direção de nossa
evolução, encontrar o Deus que habita em nós. Na passagem seguinte do Evangelho
de Maria Madalena, essa mensagem de Jesus está cristalina, destacando ainda que
Ele não deixou normas, pedindo tão somente que levassem em conta o que ele
"mostrou" na sua prática de amor incondicional.
Quando o
Filho de Deus assim falou, saudou a todos dizendo: "A Paz esteja convosco.
Recebei minha paz. Tomai cuidado para que ninguém vos afaste do caminho,
dizendo: 'Por aqui' ou 'Por lá', Pois o Filho do Homem está dentro de vós.
Segui-o. Quem o procurar, o encontrará. Prossegui agora, então, pregai o
Evangelho do Reino. Não estabeleçais outras regras, além das que vos mostrei, e
não instituais como legislador, senão sereis cerceados por elas." Após
dizer tudo isto partiu.
O Evangelho,
segundo Tomé, descoberto em 1945, tratou exatamente do mesmo enfoque encontrado
no Evangelho de Maria Madalena. Vemos este aspecto no trecho a seguir,
escolhido do artigo publicado na revista Super Interessante, na edição de
dezembro de 2004:
O Evangelho
de Tomé e outros apócrifos falam ao coração de um continente que não pára de
crescer nos tempos atuais: os ávidos por espiritualidade, mas desconfiados da
religião.
Segundo
Tomé, neste Evangelho, considerado apócrifo:
O reino está
dentro de vós e também em vosso exterior. Quando conseguirdes conhecer a vós
mesmos, sereis conhecidos e compreendereis que sóis os filhos do Pai vivo. Mas
se não vos conhecerdes, vivereis na pobreza e sereis a pobreza.
O Evangelho
de Maria Madalena apresenta ensinamentos de Jesus, que não foram passados para
os outros discípulos ou não compreendidos por eles na fala do Mestre. Que o
reino de Deus está dentro de cada pessoa e que é necessário se manter em
equilíbrio para não atrair doenças e a morte física. Visão esta plenamente
aceita atualmente pela medicina alternativa em todas as correntes. A cura de
doenças pela medicina alternativa tem sido realizada através da recomposição do
equilíbrio energético. Nas passagens, a seguir, do Evangelho de Maria Madalena,
podemos ver essa visão espiritualista de forma inequívoca:
Pedro lhe
disse: “Já que nos explicaste tudo, dize-nos isso também: o que é o pecado do
mundo?" Jesus disse: "Não há pecado; sois vós que os criais, quando
fazeis coisas da mesma espécie que o adultério, que é chamado 'pecado'. Por
isso Deus Pai veio para o meio de vós, para a essência de cada espécie, para
conduzi-la a sua origem”. Em seguida disse: "Por isso adoeceis e morreis
[...]. Aquele que compreende minhas palavras, que as coloque em prática. A
matéria produziu uma paixão sem igual, que se originou de algo contrário à
Natureza Divina. A partir daí, todo o corpo se desequilibra. Essa é a razão por
que vos digo: tende coragem, e se estiverdes desanimados, procurais força das
diferentes manifestações da natureza. Quem tem ouvidos para ouvir que
ouça”.
Nos
Evangelhos de Maria Madalena e de Felipe, encontra-se a nítida valorização da
mulher, pois em ambos se vê que Jesus fazia revelações privilegiadas a Maria
Madalena por ser ela quem mais estava em sintonia com os ensinamentos do
Mestre. Mas, a ligação de Jesus e Maria Madalena ia mais além, como se lê no
Evangelho de Felipe, no seguinte trecho:
E a
companheira do Salvador é Maria Madalena. Cristo amava-a mais do que a todos os
discípulos e costumava beijá-la com freqüência na boca. O resto dos discípulos
ofendia-se com isso e expressava sua desaprovação. Diziam a ele: Porque tu amas
mais do que a nós todos?
Em 1891, um
fato veio acender ainda mais as questões envolvendo Maria Madalena. Quando da
reforma de uma igreja no sul da França, em Rennes-le-Château, o padre Bérenger
Saunière teria encontrado um tesouro, segundo se soube, trazido da Terra Santa
e guardado pelos Cavaleiros Templários. Este segredo comprovaria a existência
de descendentes diretos de Jesus, ou seja, da linhagem sagrada.
Sabe-se
pelos textos apócrifos, que depois da morte de Jesus, os outros discípulos não
desejavam ver uma mulher no comando do grupo, o que naturalmente estava
acontecendo pelo enorme conhecimento espiritual de Madalena. Pedro por diversas
vezes contestava e se atritava com Madalena, pois temia que ela definitivamente
se tornasse líder do grupo. A partir dessa luta de poder relativo à liderança
do cristianismo e pelo fato de uma mulher contemplar mais conhecimentos que
todos os discípulos, foi forjada a história da prostituta, que todos nós,
lamentavelmente, conhecemos.
Um dos
livros que inspiraram o autor de O Código Da Vinci foi Maria Madalena e o Santo
Graal, da autora Margaret Starbird. Este livro é um de tantos outros que
apresentam a ligação do Santo Graal com Maria Madalena e a descendência de
Jesus. Margaret Starbird, querendo contestar outros autores sobre a heresia do
Graal, que dizia ter sido Jesus casado com Maria Madalena, mergulhou na
história européia, nos rituais maçônicos, na arte medieval, no simbolismo, na
psicologia, na mitologia e na religião (judaica e cristã). Contudo, acabou, de
modo surpreendente, encontrando rastros de enorme evidência de tudo ter sido
verdade, oculto e guardado sob várias formas, sobretudo na arte. Todas as
evidências levaram a autora concluir que Jesus e Maria Madalena foram realmente
casados e que tal casamento ocorreu de modo escondido, pois estavam sendo
unidas as famílias de David, filhos de Jessé (Jesus) e de Jônatas, filho de
Saul (Maria Madalena). Stargird, no livro citado, p. 24, escreve:
O casamento
foi realizado na casa de Simão, o leproso. Somente alguns amigos íntimos e suas
famílias foram convidados. Era necessário manter o fato em segredo para que
Herodes Antipas não descobrisse que uma herdeira de Benjamim unira-se em
matrimônio a um filho da casa de Davi.
Daí a
confusão que sempre fizeram os discípulos ao ver Madalena tratar Jesus, em
público, com carinhos físicos, o que seria inaceitável para uma mulher naquela
época, a não ser que ela fosse casada e tivesse tratando assim o seu
marido. Outro importante argumento em
prol de ter sido Jesus casado está no livro O Código Da Vinci, página 262:
Porque Jesus
era Judeu (...) e o decoro social daquela época praticamente proibia que um
judeu fosse solteiro. De acordo com os costumes judaicos, o celibato era
proibido e a obrigação de um pai judeu era encontrar uma esposa adequada para o
seu filho. Se Jesus não fosse casado, pelo menos um dos evangelhos da Bíblia
teria mencionado isso e dado alguma explicação para o fato de ele ter ficado
solteiro.
Esse
casamento representou grande importância dinástica, pondo em risco o governo da
época, pois o poder político de Jesus passaria inevitavelmente a incomodar.
Este fato pode muito bem ser deduzido pelo tipo de morte sofrida por Jesus,
pois a crucificação ocorria para quem fosse insurreto, no caso contra o
governo, mas principalmente pela sua dinastia. Tanto assim, que Madalena,
precisou fugir para não ser morta, indo se exilar na França.
No livro O
Santo Graal e a Linhagem Sagrada, dos autores Michael Baigent, Richard Leigh
Henry Lincoln, o assunto Maria Madalena e seu casamento com Jesus aparece de
forma enfática. Sobre o casamento, citamos a passagem encontrada na página
286:
Se Jesus foi
realmente casado com Madalena, poderia tal casamento ter servido a algum
propósito? Em outras palavras, poderia ele ter significado algo mais que um
casamento convencional? Poderia ter sido uma aliança dinástica de algum tipo,
com repercussões e implicações políticas? Em suma, poderia uma estirpe
resultante desse casamento ter garantido o nome de “sangue real”?
Somente o
casamento dos dois poderia explicar a presença de Madalena nas viagens de
Jesus. No mesmo livro, página 276, lemos:
O papel
desta mulher é singularmente ambíguo nos quatro Evangelhos e parece ter sido
deliberadamente obscurecido(...) Na palestina do tempo de Jesus seria
impossível que uma mulher não casada viajasse desacompanhada. Mais
impensadamente ainda seria viajar desacompanhada e junto com um mestre
religioso e seu círculo. Várias tradições parecem ter tomado conhecimento deste
fato potencialmente embaraçoso. Pretende-se em alguns casos que Madalena tenha
sido casada com um dos discípulos de Jesus. Se este era o caso, entretanto, seu
relacionamento especial com Jesus e sua proximidade a ele os teriam tornado
ambos sujeitos a suspeitas, se não acusações de adultério.
É certo que
Madalena se apresenta em especial importância na história de Jesus, na história
do Cristianismo, como podemos ver no mesmo livro, página 277:
É evidente
que Madalena, no final da carreira de Jesus, tinha se tornando um personagem de
imensa importância. Nos três Evangelhos sinópticos, seu nome encabeça
consideravelmente a lista mulheres que seguiam Jesus (...) Ela é a primeira
testemunha da tumba vazia após a crucificação. Para revelar a ressurreição,
Jesus escolheu Madalena entre todos os seus devotos.
Se por um
lado os discípulos masculinos ficaram escondidos, com medo, quando da
crucificação de Jesus, Maria Madalena se manteve presente, assistindo,
sofrendo, o tempo todo, conforme mencionado nos Evangelhos de Mateus, Marcos e
João. Os autores do livro O Santo Graal e a Linhagem Sagrada tecem um
importante comentário sobre a validade dos Evangelhos apócrifos, que no trecho
a seguir escolhidos (página 323), eles os denominam de Gnósticos:
À luz dos
manuscritos Nag Hammadi, a possibilidade de uma linhagem sanguínea descendente
de Jesus nos pareceu mais plausível. Alguns dos chamados Evangelhos Gnósticos
eram potencialmente tão verdadeiros e autênticos quanto os livros do Novo
Testamento. Como conseqüência, os fatos que eles, explícita ou implicitamente,
testemunham – um substituto na cruz, uma disputa entre Pedro e Madalena, um
casamento entre Madalena e Jesus, o nascimento de um “filho do Filho do homem”
– não poderiam ser desprezados, por mais controvertidos que fossem. Estávamos
lidando com história, não com teologia. E a história, no tempo de Jesus, não
era menos complexa, multifacetada e orientada para o pragmatismo do que é
hoje.
Inegável se
apresenta a ligação especial de Jesus com Maria Madalena. No tempo em que
vivemos não cabe mais falar em Madalena como prostituta. No século VI, o Papa
retirou o título de penitente dado indevidamente à Maria Madalena, mas isso é
pouco para resgatar a grande importância de Madalena no advento de
Cristianismo. Além do indevido título de prostituta, tentaram destruir o
Evangelho de Madalena, pois nele continha o importante ensinamento transmitido
por Jesus de que o caminho não está em seguir esta ou aquela estrada, quiçá
esta ou aquela religião, mas na busca interior, na evolução interior a caminho
do Deus que habita em todos nós. Mais que rotular indevidamente Madalena,
sucumbiram o verdadeiro Cristianismo, aquele praticado por Jesus, que não criou
nenhuma religião, nem pregava ou vivia em igrejas, mas praticava,
verdadeiramente, o mais puro amor, a mais bela espiritualidade e como Ele mesmo
disse:"Não estabeleçais outras regras, além das que vos mostrei, e não
instituais como legislador, senão sereis cerceados por elas."
Se não há
prova contundente de que Maria Madalena fora casada com Jesus, certo é que
ambos estiveram ligados por um amor especial, espiritual raro. Por informações
canalizadas, sabemos que Jesus e Maria Madalena são almas gêmeas, e que, na
Palestina, encarnaram para viver e ajudar mutuamente na implantação do
cristianismo. No livro A Gruta do Sol, da autora Marisa Varela, auxiliada por
mestres de luz, a ligação espiritual de Jesus e Maria Madalena aparece
translúcida. Numa das festividades do Sexto Raio, puderam ser vistos os dois
juntos, na seguinte passagem (páginas 144/145):
Seja lá o
que o homem do passado, a Igreja e as religiões tenham escondido sobre a
personagem Maria Madalena, a sua importância na implantação do Cristianismo foi
extremamente vital, ela veio para ajudar Jesus e sua ligação com o Mestre dos
Mestres está condignamente reconhecida naturalmente nas esferas espirituais.
Aqui na Terra, os artistas do passado conservaram, esconderam (mostrando) a
verdade e no tempo em que vivemos, no alvorecer da Nova Era, a verdade se abre,
desfralda o seu leque, deixando em letras garrafais a inegável verdade. Já não
é apenas questão de ter olhos para ver, trata-se de evidências tão
incontestáveis que a verdade está se impondo a todos, queiramos ou não.
Moacir Sader. Forum Espírita
Livros e
revistas pesquisados e citados no artigo acima:
1) Brown,
Dan, O Código Da Vinci. Editora Sextante. Rio de Janeiro.2004.
2) Starbird,
Margaret. Maria Madalena e o Santo Graal. Editora Sextante. Rio de Janeiro.
2004
3) Baigente,
Michael; Leigh, Ricahard; Lincoln, Henry. O Santo Graal e Linhagem Sagrada. 2
ed. Editora Nova Froteira. Rio de Janeiro. 1993.
4) Varela,
Marisa. A Gruta do Sol.8 ed. Editora Missão Orion. Rio de Janeiro. 1996.
5) Revista Super
Interessante: O Código Da Vinci. Edição 205. Outubro 2004.
6) Revista
Super Interessante: Jesus Proibido. Edição 207. Dezembro 2004.
7)
Evangelhos apócrifos segundo Maria Madalena, segundo Tomé e segundo Felipe.