O programa “Você Decide”, da Rede Globo de Televisão,
realizado no dia
26.05.1994, teve como tema central: “Se o testemunho de um
morto poderia ser
aceito num tribunal”. Com o desenrolar do programa ficou bem
nítido que a
questão fundamental era na verdade se um morto poderia se
comunicar com os
vivos.
Ao final do programa o resultado apurado foi: 48.359 sim 69%
e 21926 não 31%.
Observamos que a grande maioria das pessoas acredita na
possibilidade da
comunicação dos “mortos” com os vivos. Mas infelizmente pelo
programa percebemos que tem pessoas que ainda não sabem o que é realmente um
Centro Espírita, inclusive a certa altura foi dito: “por conta desses
espertalhões que exploram as pessoas nos centros espíritas”.
Nós sabemos que não corresponde à verdade, e sinto-me no
dever de explicar às pessoas o que vem a ser um verdadeiro Centro Espírita. O
falso Centro Espírita é fácil de conhecer, não procuram seguir nem estudar os
princípios da Doutrina Espírita, compilados na codificação de Kardec. Estão ainda
presos aos ritos africanos, usam e abusam dos banhos de descarregos,
defumadores, velas,
consultas aos espíritos para as coisas frívolas, na tentativa
de buscar os “milagres” para solucionar seus problemas do dia a dia.
Mas voltemos ao tema que desejamos desenvolver. Se uma pessoa
disser que não acredita de forma alguma que os “mortos” se comunicam com os
vivos não me importaria, pois muitas vezes a falta de conhecimento, o
misticismo, o medo, os princípios religiosos que abraça, podem tolher a visão de
modo que não consegue enxergar a verdade, por mais óbvia que seja. Um exemplo, não
muito longe de nosso tempo, foi quando Galileu Galilei vinha, com uma nova
teoria, dizer que a Terra não era o centro do Universo, quase lhe custou a vida
numa fogueira.
O que não posso aceitar são as afirmações de que na Bíblia
não tem, ou seja, que a comunicação dos mortos não se encontra no Livro
Sagrado, e se não tem, não isto pode acontecer. Para estas pessoas só poderemos dizer
que não possuem nenhum conhecimento da Bíblia ou que apenas conhecem alguma
parte, mas não conhecem o conjunto e que a visão do conjunto muitas vezes
nos leva à
compreensão de uma verdade que não aparece num simples
enunciado.
Um telespectador é o exemplo do que falo cita: “Que Paulo
disse que somente morremos uma vez; que iremos aguardar o juízo final”.
Analisando estas citações vamos ver se isoladas têm sentido.
Se aceitarmos que somente morremos uma vez chegaríamos à conclusão que
Jesus e os apóstolos não poderiam ressuscitar ninguém, pois se isto acontecesse,
para estas pessoas, haveria duas mortes, o que seria contrário à citação. Mas se
o verdadeiro sentido, baseado nos conhecimentos da Doutrina Espírita,
fosse de que neste corpo físico somente morreremos uma vez e em definitivo. Isto
também valeria para cada corpo que habitamos, em todas nossas outras
reencarnações.
Quanto ao julgamento no dia do juízo final, veremos que seria
contraditório com a afirmativa de que ao morrermos iremos para o céu ou
para o inferno, conforme tenhamos sido bons ou maus, enquanto vivíamos aqui
na Terra. Ora no dia do julgamento se diz que Deus irá julgar os vivos e os
mortos, e como recompensa teremos o céu ou o inferno. Assim sendo, afinal quando é
mesmo que iremos para o céu ou para o inferno, no dia da nossa morte ou no dia do
julgamento final?
E, finalmente, vamos agora buscar dentro das Escrituras
algumas passagens que podem sustentar ou evidenciar a comunicação com os mortos. A
mais evidente do Novo Testamento, fora as que narram Jesus entre nós depois
que havia morrido, é a narrada por Mateus (17, 1-4): “Seis dias depois, Jesus
tomou consigo a Pedro, Tiago e seu irmão João, e os levou a um lugar à parte,
sobre um alto
monte. Transfigurou-se diante deles: seu rosto brilhava como
o sol e sua roupa tornou-se branca como a luz. Então lhes apareceram Moisés e
Elias, conversando com Ele. Pedro interveio, dizendo a Jesus: ”
Senhor, como é bom estarmos aqui! Queres-se, farei aqui três tendas: uma
para ti, outra para
Moisés e outra para Elias.” Trata-se de um fenômeno de
materialização, onde os espíritos de Moisés e Elias apareceram a Jesus, Pedro,
Tiago e João.
Repetimos espíritos, pois Moisés e Elias já haviam morrido, e
nesta passagem é relatada a comunicação deles, pois conforme fala Mateus,
estavam estes espíritos conversando com Jesus.
Em Atos 16, 16-18: “Certa vez, enquanto nos dirigíamos para o
lugar de oração, veio ao nosso encontro uma jovem criada, que possuía
um espírito adivinhador. Com suas adivinhações, ela conseguia muito lucro
aos seus senhores. Ela começou a seguir Paulo e a nós, gritando:”
Estes homens são servidores do Deus Altíssimo; eles vos ensinam o caminho da
salvação. “E assim
procedeu por muitos dias. Finalmente Paulo, aborrecido,
virou-se para ela e disse ao espírito:” em nome de Jesus Cristo, eu te ordeno que
saias dela.
” E ele saiu no mesmo instante “. Paulo na ordem que deu ao
espírito para que saísse daquela moça estava, na verdade, se comunicando
com este espírito, que há algum tempo vinha lhe elogiando, que para isto se
utilizava o corpo da moça, o que vulgarmente se chamaria de incorporação.
Em Atos 8, 26-29: “O anjo do Senhor dirigiu a Filipe estas
palavras:” Tu irás rumo ao Sul, pela estrada que desce de Jerusalém a Gaza.
Ela está deserta.
“Filipe partiu imediatamente. Ora, vinha chegando um etíope,
eunuco e alto funcionário da corte de Candace, rainha da Etiópia que lhe
tinha entregue a guarda de todos os seus tesouros. Ele tinha ido a Jerusalém
adorar a Deus. Agora voltava, lendo o profeta Isaías, sentado em sua carruagem. O
Espírito
disse a Filipe: ” Aproxima-te e acompanha essa carruagem.”
Mais uma comunicação, onde um espírito orienta a Filipe sobre como ele
deveria agir.
E para que não reste mais nenhuma dúvida sobre a comunicação
dos mortos com os vivos, vamos agora ver no Antigo Testamento. A passagem é
bem nítida e uma das mais citadas no meio espírita para comprovar, na Bíblia,
a comunicação dos mortos. Iremos então ler em I Samuel 28, 7-20: “O rei disse
aos seus servos:
” Procurai-me uma necromante para que eu a consulte. ” – ” Há
uma em Endor “, responderam-lhe. Saul disfarçou-se, tomou outras vestes e
pôs-se a caminho com dois homens. Chegaram à noite à casa da mulher. Saul
disse-lhe: ”
Predize-me o futuro, evocando um morto; faze-me vir aquele
que eu te designar”. Respondeu-lhe a mulher: ” Tu bem sabes o que fez
Saul, como expulsou da terra os necromantes e os adivinhos. Por que me armas
ciladas para matar-me?”
Saul, porém, jurou-lhe pelo Senhor: “Por Deus, disse ele, não
te acontecerá mal algum por causa disto”. Disse-lhe então a mulher: “A quem
evocarei?” – “Evoca-me Samuel“. E a mulher, tendo visto Samuel, soltou um grande grito: “Por que me enganaste?” – Disse ela ao rei.
“Tu és Saul!” E o
rei: “Não temas! Que vês?” – A mulher:” Vejo um deus que sobe
da terra”. –” Qual é o seu aspecto?” –”É um ancião, envolto num manto “. – Saul
compreendeu que era Samuel, e prostrou-se com o rosto por terra. Samuel disse ao
rei: ” Por que me incomodaste, fazendo-me subir aqui? – “Estou em grande
angústia, disse o rei. Os filisteus atacam-me e Deus se retirou de mim, não me
respondendo mais,
nem por profetas, nem por sonhos. Chamei-te para que me
indiques o que devo fazer”. – Samuel disse-lhe: “Por que me consultas, uma vez
que o Senhor se retirou de ti, tornando-se teu adversário? Fez o Senhor como
ele o tinha anunciado pela minha boca. Ele tira a realeza de tua mão para
dá-la a outro, a Davi. Não obedeceste à voz do Senhor e não fizeste sentir a
Amalec o fogo de sua
cólera; eis porque o Senhor te trata hoje assim. E mais: o
Senhor vai entregar Israel, juntamente contigo, nas mãos dos filisteus. Amanhã,
tu e teus filhos estareis comigo, e o Senhor entregará aos filisteus o
acampamento de Israel”.
Saul, atemorizado com as palavras de Samuel, caiu estendido
por terra, pois estava extenuado, nada tendo comido todo aquele dia e toda
aquela noite”.
Mais claro do que isto é impossível, entretanto como diz
Jesus: “ouça quem tem ouvidos de ouvir”. Pela narrativa, Saul vai procurar uma
necromante a fim de consultar ao espírito Samuel, sobre o que aconteceria
na batalha com os filisteus. Ouve, via “incorporação”, de Samuel que Deus lhe
entregaria aos filisteus, é em resumo os fatos narrados.
Por fim citaremos Deuteronômio, 18, 9-12: “Quando tiveres entrado
na terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não te porás a imitar as
práticas abomináveis da gente daquela terra. Não se ache no meio de ti quem faça
passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem quem se dê à adivinhação, à
astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à adivinhação ou à
evocação dos mortos, porque o Senhor, teu Deus, abomina aqueles que se dão
a essas práticas, e é por causa dessas abominações que o Senhor, teu
Deus, expulsa diante de ti essas nações”.
Ao proibir a evocação dos mortos, Deus, partindo do
pressuposto que esta ordem é Dele, nos dá o maior atestado de que a comunicação
com os mortos é real, pois não haveria sentido nenhum proibir algo que não pudesse
acontecer.
Quanto ao termo espiritismo, trata-se de uma grosseira adulteração
dos textos, pois é um neologismo criado em 1857 por Allan Kardec, quando, aos 18
dias do mês de abril, lança o “Livro dos Espíritos”. De mais a mais para os
leigos espiritismo e evocação dos mortos são a mesma coisa, também, não haveria
sentido proibir a mesma coisa duas vezes.
O que fica e, é para nós, irrefutável é que a comunicação dos
mortos é possível desde muito tempo atrás, apesar das mentes fechadas
não quererem ver o óbvio.
Para os que têm a Bíblia como palavra de Deus, procurem sair
da incoerência em que se encontram, e vejam que com seus próprios
argumentos, a palavra de Deus, fala incontestavelmente da comunicação dos mortos com
os vivos, e novamente, recordando Jesus: “ouça quem tem ouvidos de
ouvir”.
Fonte: Portal do Espírito-Paulo da Silva Neto Sobrinho
Bibliografia:
Novo Testamento, LEB – Edições Loyola, 1984.
Bíblia Sagrada, Editora Ave Maria, 68ª Edição.