Com fulcro
na Bíblia Sagrada e em várias obras da bibliografia espírita e espiritualista,
é estabelecido de forma explícita nesse livro que o planeta Terra está
convencionalmente dividido em sete dimensões, e essa convenção teve origem no
Plano Espiritual. A cada uma delas é atribuído um nome característico, sendo os
da primeira e da segunda esferas colhidos, respectivamente, em Apocalipse e na
Coleção A vida no Mundo Espiritual – Série André Luiz2 (como veremos no
decorrer deste artigo), e os das cinco restantes, no livro Cidade no além.3
O assunto,
evidentemente, não constitui maior novidade, mas da forma exótica e até certo
ponto confusa pela qual vinha sendo apresentado, principalmente pelas escolas
filosóficas orientais, para esta nova formulação simplificadora e lógica, o
avanço é muito significativo.
Faremos, a
seguir, uma breve incursão em cada uma dessas esferas, lembrando que – para
usarmos a terminologia bíblica – algumas são habitadas só por joio, outras por
joio e trigo, e outras somente por trigo:
Abismo.
Esta é a
primeira e a mais inferior das esferas, só habitada por joio em sua pior
condição. A nomenclatura é empregada por João Evangelista, em Apocalipse, 20:1
a 3, quando diz:
Então, vi
descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente.
Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu
por mil anos; lançou-o no abismo, fechou-o, e pôs selo sobre ele, para que não
mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. […]
Segundo a
Doutrina Espírita, esse ser diabólico chamado Satanás não representa uma
entidade tomada individualmente, mas uma falange de Espíritos que se feriram
profundamente perante a Lei. Na definição de André Luiz, são:
Espíritos
caídos no mal, desde eras primevas da Criação Planetária, e que operam em zonas
inferiores da vida, personificando líderes de rebelião, ódio, vaidade e
egoísmo; não são, todavia, demônios
eternos, porque individualmente se transformam para o bem, no curso dos
séculos, qual acontece aos próprios homens. (Libertação, cap. 8 – Inesperada
intercessão, nota 3 do autor espiritual.)
Até as
entidades obsessoras, atuantes na Crosta terrestre, denotam conhecer e temer
essa formidável região abissal. Quando Jesus ordenou aos Espíritos imundos que
saíssem do endemoniado geraseno, eles
lhe rogaram “[…] que não os mandasse sair para o abismo” (Lucas, 8:31).
Preferiram a manada de porcos.
Trevas.
Esta é a segunda esfera, também só habitada
por joio, mas em condição mais branda que a dos habitantes do Abismo.
André Luiz
estranha, em Nosso lar (cap. 44 – As trevas), a menção feita pelo Governador,
em seu discurso, “aos círculos da Terra, do Umbral e das Trevas”, pois ainda
não tivera notícia deste último plano. E busca a orientação de Lísias, que
informa:
– Chamamos
Trevas às regiões mais inferiores que conhecemos. […]
–
Naturalmente, como aconteceu a nós outros, você situou como região de
existência, além da morte do corpo, apenas os círculos a se iniciarem da
superfície do globo para cima, esquecido do nível para baixo. A vida, contudo,
palpita na profundeza dos mares e no âmago da terra. […][…] Quem estime viver
exclusivamente nas sombras, embotará o sentido divino da direção. Não será
demais, portanto, que se precipite nas Trevas, porque o abismo atrai o abismo e
cada um de nós chegará ao local para onde esteja dirigindo os próprios passos.
Em outras
obras da Série André Luiz, o instrutor Gúbio chama essas regiões habitadas de
“precipícios subcrostais” (Libertação, cap. 7 – Quadro doloroso), e o instrutor
Jerônimo, de “esferas subcrostais” (Obreiros da vida eterna, cap. 15 –
Aprendendo sempre).
Crosta terrestre.
Esta é a
terceira esfera, habitada por nós, os Espíritos encarnados, em que já aparece o
trigo mesclado ao joio em todos os povos e nações. Essa esfera é de todos nós
sobejamente conhecida, por ser nossa morada provisória, dispensando, por isso,
maiores considerações. Sobre o Umbral, a esfera que vem logo acima da Crosta,
dispomos de ampla e minuciosa descrição na obra luiziana, tão rica de detalhes
quanto o poderia desejar o mais exigente pesquisador desses “mistérios”
celestiais.
Aqui é de
justiça reconhecer que o genial escritor desencarnado fez autêntica revolução
neste setor de conhecimento. Lançou jorros de luz sobre essa intrigante região
espiritual, como se varresse com potentíssimos holofotes esses sítios
tenebrosos. E desmitificou um campo tão próximo à Crosta, de onde os homens só
recebiam pálidas e distorcidas imagens (haja vista A divina comédia, de Dante
Alighieri), por meio das dissertações teológicas, teosóficas, esotéricas e
ocultistas divulgadas no mundo em todos os tempos.
Superando
todas essas distorções, temos em André Luiz uma espécie de conspícuo embaixador
terrestre enviado por nossa Humanidade a um país limítrofe. Nesse país, ele visita
pessoalmente cada região e nos envia circunstanciado relatório, não só expondo
com argúcia e suma inteligência seu ponto de vista, mas também colhendo
profundos e sérios subsídios dos elevados mentores que o conduzem e esclarecem
a cada passo.
Umbral.
Esta é a
quarta esfera, que envolve a Crosta terrestre, habitada também por trigo e
joio, mas, ao contrário daqui, lá as gramíneas já se encontram separadas: o
trigo habitando as cidades amuralhadas e o joio espalhado pela “terra da
liberdade” (E a vida continua…, cap. 14 – Novos rumos). A cidade Nosso Lar está
situada sobre o Rio de Janeiro, nas regiões superiores do Umbral.
O Umbral,
como vemos na citada Série (e, neste parágrafo, apresentado em sinopse), começa
em nosso plano e é habitado por milhões de Espíritos que partilham, com as
criaturas terrenas, as condições de habitabilidade da Crosta do mundo. Os que
habitam suas regiões inferiores apoiam-se na mente encarnada e é pelo
pensamento que os homens encontram nessa região os companheiros que afinam com
as suas tendências. Funciona como “uma espécie de zona purgatorial, onde se
queima a prestações o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu
por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena” [Nosso
lar, cap. 12 – O Umbral]. O interesse de seus habitantes inferiores é a
conservação do mundo ofuscado e distraído, à força da ignorância defendida e do
egoísmo recalcado, adiando-se o Reino de Deus, entre os homens,
indefinidamente.
Arte, Cultura e Ciência.
Esta é a
quinta esfera, só habitada por trigo em toda a sua envoltura.
Acerca desse
quinto orbe, cremos haver encontrado uma ilustrativa página mediúnica de Victor
Hugo, psicografada pela médium Zilda Gama. Nesse texto cintilante, o fecundo
escritor francês narra o voo cósmico que o instrutor espiritual Alfen levou seu
pupilo Paulo (recém-liberto da carne) a fazer pelas esferas superiores da
Terra, a fim de prepará-lo, através da visão inebriante dessas regiões divinas,
para uma última reencarnação na Crosta. O objetivo dessa viagem espiritual era
fortalecer o Espírito Paulo para que, em sua futura e próxima existência na
carne, se redimisse, finalmente, de seus derradeiros ônus para com a Lei de
Deus.
A narrativa
prossegue, minuciosa, descrevendo a amarguíssima existência vivida por Paulo,
na França, da qual, finalmente, sai vencedor. Após a desencarnação, levado de
volta ao orbe superior pela mão de seu guia espiritual, ele é finalmente
apresentado por Alfen à corte celeste como um habitante definitivo daquele
plano, um futuro mensageiro celestial.4
Amor fraterno universal.
Esta é a
sexta esfera, também só habitada por trigo, mas num estágio superior ao dos
habitantes da quinta.
É desse
plano verdadeiramente hiperceleste que, sem dúvida, desceu o mensageiro
Asclépios, materializando-se no Santuário da Bênção, em Nosso Lar, para uma
formosa preleção a seus habitantes. Informa o instrutor Cornélio:
– Pertence
Asclépios a comunidades redimidas do Plano dos Imortais, nas regiões mais
elevadas da zona espiritual da Terra. Vive muito acima de nossas noções de
forma, em condições inapreciáveis à nossa atual conceituação da vida. Já perdeu
todo contato direto com a Crosta terrestre e só poderia fazer-se sentir, por
lá, através de enviados e missionários de grande poder. Apreciável é o
sacrifício dele, vindo até nós, embora a melhoria de nossa posição, em relação
aos homens encarnados. Vem aqui raramente. Não obstante, algumas vezes, outros
mentores da mesma categoria visitam-nos por piedade fraternal. (Obreiros da
vida eterna, cap. 3 – O sublime visitante.)
Diretrizes do planeta.
Esta é a
sétima e última esfera, onde certamente o Cristo está entronizado no seio de
uma Humanidade cuja altitude evolutiva é por ora inconcebível para nós. E desse
refulgente Paraíso celestial, governa esse maravilhoso Organismo de Esferas
chamado planeta Terra, que Ele mesmo formou por determinação de Deus.
Quem nos
poderia proporcionar alguma informação dessa esfera paradisíaca?
Narcisa,
falando da ministra Veneranda, fornece alguns parâmetros do merecimento que o
Espírito precisa amealhar para, um dia, ser levado a visitar esse Plano Divino:
[…] É a
entidade com maior número de horas de serviço na colônia e a figura mais antiga
do Governo e do Ministério, em geral. Permanece em tarefa ativa, nesta cidade,
há mais de
duzentos
anos. […]
[…] Com
exceção do Governador, a ministra Veneranda é a única entidade, em Nosso Lar,
que já viu Jesus nas Esferas Resplandecentes, mas nunca comentou esse fato de
sua vida espiritual e esquiva-se à menor informação a tal respeito. […] As
Fraternidades da Luz, que regem os destinos cristãos da América, homenagearam
Veneranda conferindo-lhe a medalha do Mérito de Serviço, a primeira entidade da
colônia que conseguiu, até hoje, semelhante triunfo, apresentando um milhão de
horas de trabalho útil, sem interromper, sem reclamar e sem esmorecer. […]
[…] Soube
que essa benfeitora sublime vem trabalhando, há mais de mil anos, pelo grupo de
corações bem-amados que demoram na Terra, e espera com paciência. (Nosso lar,
cap. 32 – Notícias de Veneranda.)
Notem a
sublimidade da informação dada por Narcisa: “Com exceção do Governador, a
ministra Veneranda é a única entidade, em Nosso Lar, que já viu Jesus nas
Esferas Resplandecentes”, confirmando assim para nós, que Jesus tem de fato um
lugar em que normalmente permanece neste planeta, cercado por seus ministros e
assessores – recebendo visitas dos que conseguem adquirir esse merecimento
altíssimo –, enquanto governa o planeta a partir dessa esfera, que é a mais
elevada dentre as que compõem o globo.
E agora, a
pergunta crucial: Qual a importância destas reflexões sobre a vida nas esferas?
Um turista precavido, quando se propõe a visitar determinado país procura, com
alguma antecedência, estudar sua história, sua geografia, seu povo, sua língua,
seus costumes e seus pontos turísticos de maior interesse, a fim de tirar o
melhor proveito de sua viagem. Que somos nós, habitantes da Terra, senão
turistas forçados em trânsito por esta “hospedaria” chamada Crosta? E nossa
passagem por esta pensão é tão rápida que, como diria Kardec, citando o Sr.
Jobard, “não vale a pena desfazer as malas”.5
As sete
esferas da Terra, nesta nova edição ilustrada, expandida e enriquecida,
constitui-se numa preventiva e eficiente carta de navegação cósmica que ofereço
fraternalmente a meus irmãos de jornada para auxiliá-los em seus próximos
passos pela esteira do Infinito.
REFERÊNCIAS:
1KARDEC,
Allan. O céu e o inferno. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp.
Brasília: FEB, 2016. cap. 3 – O céu.
2No bojo do
artigo, os livros citados com capítulos são da Coleção A vida no Mundo
Espiritual (Série André Luiz), recebidos por Francisco Cândido Xavier e
publicados pela FEB Editora, os grifos são do autor.
3XAVIER,
Francisco C.; CUNHA, Heigo-rina. Cidade do além. Pelos Espíritos André Luiz e
Lucius. 9. ed. Araras (SP): IDE, 1987.
4GAMA,
Zilda. Na sombra e na luz. Pelo Espírito Victor Hugo. 1. ed. 2. imp. Brasília:
FEB, 2014. livro 2– Na escola do Infinito e livro 5 – O homem astral.
5KARDEC,
Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. ano 1, n. 7, jun.
1858, p. 356. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 5. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2014.
Revista Reformador - Federação Espírita
Brasileira 2014