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  No   ser humano cria-se um conflito entre o princípio do prazer e o princípio do   dever. O princípio do prazer é o desejo de satisfazer as necessidades humanas   e o princípio do dever, ou princípio da realidade é o que impede ou proíbe ao   homem satisfazer algumas de suas necessidades.  Há   no homem uma carga energética que necessita de uma derivante, uma descarga.   Quando essa descarga não se realiza, para que ele possa se satisfazer, porque   a realidade o frustra, necessita de um meio para a sua realização que é a   fantasia alucinatória.  O   indivíduo se alucina e faz de conta que satisfaz essas necessidades ou que as   pode satisfazê-las no além. Será compensado no além pelos sofrimentos, pelas   privações e injustiças que teve que padecer e suportar nesta vida. Sofrer na   terra será acumular méritos para receber um prêmio maior no céu. Quanto mais   insatisfação tenha, quanto mais energia fique sem descarga, tanto maior a   glória que ele receberá no céu. O indivíduo que não pode satisfazer suas   necessidades na realidade, separa-se do mundo exterior e cria um mundo   interior próprio para nele satisfazer, de forma ideal, todos os seus desejos.    O   indivíduo fica num conflito dialético entre a necessidade de satisfazer os   seus impulsos individuais e a inclinação para satisfazer o bem comum, na   sociedade. Essa situação lhe traz um grau de insatisfação muito grande,   porque para satisfazer determinadas necessidades individuais na sociedade em   que vive, ele tem que reconhecer as suas limitações e renunciar a algumas das   suas necessidades.  Para   Freud, a religião cumpre a função de ajudar o ser humano a satisfazer na   imaginação o que na realidade ele não se atreve ou não pode realizar na vida   real. A religião, em suas palavras, seria um erro grave e como erro, toda a   ambigüidade entre signos, símbolos e realidade é grande demais para ser real.   Trata-se de um delírio da verdade.  Para   satisfazer essas necessidades, o indivíduo se identifica com um intermediário   que lhe permite a satisfação das mesmas, e então, ele terá um sentido, um   objetivo, uma meta para continuar com o seu sofrimento e viver na sociedade.   Dessa maneira, o indivíduo assim se expressa: Eu sofro, mas através de Cristo   os meus sofrimentos serão recompensados.  Para   Wilber (1977), a diversidade das religiões exotéricas refletem a diversidade   das ideologias, idiossincrasias e paradigmas culturais.  As   religiões derivaram-se de interpretações personificadas, que fizeram com que   surgissem em todas as partes do planeta, ramos religiosos que se diferenciam   pelos nomes dados ao Inominado. Todas pretendem a mesma coisa: a evolução   espiritual. Todas pregam a mesma coisa: a prática do bem. Todas condenam a   mesma coisa: o exercício do mal. Todas afirmam que somos irmãos, somos iguais,   que devemos nos amar e unir. Mas todas brigam entre si em nome do amor do seu   Deus.  No   filme americano Coração Satânico (Angel Heart) há um diálogo entre o detetive   Harry Angel e o misterioso homem chamado Louis Cyphre, que profere a seguinte   expressão: "Dizem que há religiões suficiente no mundo para os homens se   odiarem uns aos outros, mas não para que se amem".  Moisés   foi incumbido de libertar os judeus, "o povo de Deus", o que queria   dizer que os egípcios eram o povo de um outro Deus, e mais tarde Deus afogou   milhares de egípcios para salvar o seu povo. Como foi isso possível ? E isso,   até hoje, ainda é ensinado nas escolas, nos cultos ! Jesus   era judeu, foi morto pelos romanos e, em seguida, criou-se a Igreja Católica   Apostólica Romana que apossou-se dele e passou a acusar os judeus de terem   matado o filho do "seu" Deus. E, assim, o Deus dos judeus virou o   Deus dos católicos. Muitos afirmam que Jesus vai voltar, mas se ele voltar   como voltará: judeu, americano, mulçumano, árabe, branco, negro, ou índio? Para   aqueles que experimentaram a experiência da "presença de Deus em si   mesmos" , cada um deles, utilizaram ao expressar essa experiência   diferenças nas elaborações simbólicas aparecidas em suas mentes. Schoedinger,   utilizou os termos da teoria física; Cristo, os da teologia hebraica;   Shankara, os da antologia hindu. Contudo a realidade dessa experiência, em   cada um deles, continuou sendo uma e a mesma. Por esse motivo dir-se-ia que o   nível de consciência do Ego (personalidade) é o nível das várias religiões   exotéricas, e que o nível de consciência da Alma, é o nível da unidade   transcendente da religião esotérica.  Na   essência, todas as religiões são esotéricas, significando com isso, que o   Cristianismo não é o único caminho.  Cristo   viu que o seu Ser não é o tempo, nem tampouco pode ser encontrado no espaço   e, assim, de maneira alguma pode Ele ser feito propriedade de nenhuma   religião determinada ( Ver Coríntios 12, 4-6 . . . os dons são diversos, mas   o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o   mesmo. E há dificuldade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo   em todos).  Diante   desses fatos podemos dizer que o homem é o instrumento e o terreno adequado   onde a relação dinâmica, Espírito-Matéria, pode se desenvolver, pois é nele,   e somente nele, que a Vida Divina tem condições de se transformar em   consciência e individualizar-se tornando-se consciente de si mesmo.  Dessa   forma, o ciclo humano, representa um estágio de transição e transformação, um   fase de preparação para um novo reino ( Ver Jo. 14, 1-3, . . . Na casa de meu   PAI há muitas moradas) , o dos Homens Verdadeiros (Ver Lc. 13, 23-30, . . .    muitos procurarão entrar, e não poderão) completamente despertos ( Ver Lc. 9,   50-60, . . . Deixai os mortos o cuidado de enterrar seus mortos . . . ) que   poderão promover a manifestação da Vontade Divina.  O   homem vive numa situação aparentemente paradoxal, pois participa de duas   dimensões, a consciente e a inconsciente.  Ele   serve de ponte entre o Céu e a Terra e vive em si mesmo, primeiramente, como   conflito, e, a seguir, como oportunidade de transformação e evolução. Esta   posição do homem constitui seu maior problema, mas também seu privilégio,   pois lhe confere o encargo de reunir em si mesmo Espírito e Matéria,   Inconsciente e Consciente, Alpha e Omega, Infinito e Finito.  Ele   é o microcosmo e o macrocosmo e pode fazer experiência direta, em sua   consciência, da realidade transcendente, além de reviver em si mesmo a   Unidade e a Harmonia. O   homem, tal como ele é agora, é um ser de transição que, por meio de suas   lutas, sofrimentos, maturações e tomadas de consciência, fará brotar de si   mesmo o ser novo ( Ver Jo. 3, 1-12, . . . aquele que não nascer de novo, não   pode ver o reino de Deus ) . Entende-se   dessa forma, porque a evolução da humanidade é muito lenta e gradual e se   desenvolve ao longo de milênios e milênios, abarcando muitas vidas com vária   fases e níveis.  Estudando   a Psicanálise Transcendental o homem pode penetrar pouco a pouco as camadas   mais sutis do inconsciente e encontrar o ser oculto que se revela ao Self,   que está ali contido no Self e que é o próprio Self.  Segundo   os estudos espiritualistas, o Self é o centro da consciência do homem, o   núcleo mais profundo do ser, o Homem Cósmico, o Avatar, o Pai, é o homem que   penetrou a consciência logóica ( a Consciência do Logos, a Consciência de   Deus) e que está contido no Todo ( o Todo é Deus) onde "o Todo é Um e o   Um é o Todo". Com isso, quero dizer que o Self é o Pai ( Eu e o Pai   somos Um, disse Jesus) ; é a estrutura ainda inconsciente do Homem   Verdadeiro. E que todo o trabalho espiritual ou psicanalítico tem o mesmo   objetivo, despertar no homem comum a sua verdadeira essência, que é a   expressão integral do Self. Entendemos, então, que o oculto (o que é   espiritual) é o inconsciente revelado (Ver Lc. 8, 16-17 . . . não há coisa   oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se   e vir à luz) .  A   psicanálise transcendental é a ciência do inconsciente, e portanto, do   oculto, uma ciência dos estudos espirituais, onde se encontra a necessidade   da revelação do oculto, que em certo sentido é o mesmo que a revelação do que   está no inconsciente.  Renato  Coutinho  |