Todas
as religiões e todas as filosofias têm tentado explicar a morte;
bem poucas lhe têm conservado o verdadeiro caráter.
O
Cristianismo divinizou-a; seus santos encararam-na nobremente, seus
poetas cantaram-na por uma libertação. Entretanto, os santos do
Catolicismo só viram nela as exonerações da servidão da carne, o
resgate do pecado, e, por isso mesmo, os ritos funerários da
liturgia católica espalham uma espécie de terror sobre essa
peroração, aliás, tão natural, da existência terrestre.
A
morte é simplesmente um segundo nascimento; deixamos o mundo pela
mesma razão por que nele entramos, segundo a ordem da mesma lei.
Algum
tempo antes da morte, um trabalho silencioso se executa. A
desmaterialização já está começada. Poderiam verificá-la por
certos sinais, quantos rodeiam o moribundo, se não estivessem
distraídos pelos fatos externos. A moléstia goza aqui de papel
considerável. Ela acaba em alguns meses, em algumas semanas, em
alguns dias, apenas, o que o lento trabalho da idade havia preparado:
é a obra de “dissolução” de que fala o Apóstolo Paulo. Essa
palavra dissolução é muito significativa: indica nitidamente que o
organismo se desagrega e que o perispírito se “desliga” do resto
da carne em que estava envolvido.
Ninguém
morre só, pela mesma forma que ninguém nasce só. Os invisíveis
que o conheceram, que o amaram, que o assistiram aqui, em nosso orbe,
vêm ajudar o moribundo a desembaraçar-se das últimas cadeias
do cativeiro terrestre.
A
desmaterialização está completa; o perispírito se desprende do
invólucro carnal, que vive ainda algumas horas, talvez, de uma vida
puramente vegetativa. Assim, os estados sucessivos da
personalidade humana desenrolam-se em ordem inversa àquela que
preside ao nascimento.
As
Almas, por instinto infalível, vão para a esfera proporcionada a
seu grau de evolução, à sua faculdade de iluminação, à sua
aptidão atual de perfectibilidade.
As
afinidades fluídicas conduzem-na, qual doce mas imperiosa brisa que
impele um batel, para outras Almas similares, com as quais vai
unir-se em uma espécie de amizade, de parentesco magnético; e
assim, a vida, uma vida verdadeiramente social, mas de grau
superior, reconstitui-se, tal qual outrora na Terra, porque a
Alma humana não poderia renunciar à sua natureza. A estrutura
íntima, sua faculdade de irradiação, lhe impõe a sociedade que
merece.
As
altas missões da Alma jamais cessam. Os Espíritos sublimes, que têm
instituído e melhorado seus semelhantes na Terra, continuam em mundo
superior, em quadro mais vasto, seu apostolado de luz e sua redenção
de amor.
Conforme
dissemos no início destas páginas, é assim que a História
eternamente recomeça e se torna cada vez mais universal. A lei
circulatória que preside ao eterno progresso dos Estados e dos
mundos desenrola-se sem cessar em esferas e mundos cada vez mais
engrandecidos; tudo recomeça no Alto, em virtude da mesma lei que
faz tudo evolver no plano inferior. Todo o segredo do Universo aí
está.
Autor:
Léon Denis
Livro:
O Grande Enigma