A morte mais não é que uma transformação necessária e uma
renovação, pois nada perece realmente. A morte é só aparente; somente muda a
forma exterior; princípio da vida, a alma fica em sua unidade permanente,
indestrutível. Esta se acha, além do túmulo, na plenitude de suas faculdades,
com todas as aquisições com que se enriqueceu durante as suas existências
terrestres: luzes, aspirações, virtudes e potências. Eis aí os bens
imperecíveis a que se refere o Evangelho, quando diz: “Os vermes e a ferrugem
não os consumirão nem os ladrões os furtarão.” São as únicas riquezas que
poderemos levar conosco e utilizar na vida futura.
A morte e a reencarnação que se lhe segue, em um tempo dado,
são duas condições essenciais do progresso. Rompendo os hábitos acanhados que
havíamos contraído, elas colocam-nos em meios diferentes; obrigam a
adaptarmo-nos às mil faces da ordem social, e universal.
Quando chega o declínio da vida, quando nossa existência,
semelhante à página de um livro, vai voltar-se para dar lugar a uma página
branca e nova, aquele que for sensato consulta o seu passado e revê os seus
atos. Feliz quem nessa hora puder dizer: meus dias foram bem preenchidos! Feliz
aquele que aceitou as suas provas com resignação e suportou-as com coragem!
Esses, macerando a alma, deixaram expelir tudo o que nela havia de amargor e
fel.
Rememorando na consciência as suas tribulações, bendirão os
sofrimentos que suportaram e, com a paz íntima, verão sem receio aproximar-se o
momento da morte.
Digamos adeus às teorias que fazem da morte a porta do nada,
ou o prelúdio de castigos intermináveis. Adeus sombrios fantasmas da Teologia,
dogmas medonhos, sentenças inexoráveis, suplícios infernais! Chegou a vez da
esperança e da vida eterna! Não mais há negrejantes trevas, porém, sim, luz
deslumbrante que surge dos túmulos.
Já vistes a borboleta de asas multicores despir a informe
crisálida, esse invólucro repugnante, no qual, como lagarta, se arrastava pelo
solo? Já a vistes solta, livre, voejar ao calor do Sol, no meio do perfume das
flores? Não há imagem mais fiel para o fenômeno da morte. O homem também está
numa crisálida que a morte decompõe. O corpo humano, vestimenta de carne, volta
ao grande monturo; o nosso despojo miserável entra no laboratório da Natureza;
mas, o Espírito, depois de completar a sua obra, lança-se a uma vida mais
elevada, para essa vida espiritual que sucede à vida corpórea, como o dia
sucede à noite. Assim se distingue cada uma das nossas encarnações.
Firmes nesses princípios, não mais temeremos a morte. Como
os gauleses, ousaremos encará-la sem terror. Não mais haverá motivo para
receio, para lágrimas, cerimônias sinistras e cantos lúgubres. Os nossos
funerais tornar-se-ão uma festa pela qual celebraremos a libertação da alma,
sua volta à verdadeira pátria.
Texto retirado do livro “Depois da Morte” - Léon Denis