Numerosas crenças e culturas descrevem a importância da
glândula pineal e seu papel como mediadora da consciência. Místicos, filósofos,
pensadores, figuras religiosas, tanto do Oriente quanto do Ocidente, associaram
a pineal à capacidade de transcendência. Descartes considerou-a a porta da alma
(SMITH, 1998), outros enxergaram a pineal como o local onde se escondia a
“pedra da loucura” (CARDINALI, 2014).
O Espiritismo abordou o papel da glândula pineal através de
livros escritos por Francisco Cândido Xavier, notadamente Missionários da luz,
publicado em 1945 (XAVIER, 2015).
Tratando da glândula pineal, também chamada epífise, André
Luiz antecipou-se a algumas descobertas científicas, em período que variou de
poucos anos a algumas décadas.
Assim, o objetivo deste texto é relatar as informações de
André Luiz, as quais podemos certamente considerar como antecipações de achados
científicos. O autor espiritual utilizou em seus relatos linguagem coloquial,
sem qualquer pretensão dos recursos da linguagem científica, todavia, fez
descrições sobre a pineal com a segurança de quem tem pleno conhecimento e não
como quem faz especulações. Em apenas dois capítulos trouxe volume
impressionante de informações sobre a pineal e seu hormônio, em número superior
ao escrito pela ciência da época
(www.pubmed.org,2015).
Descrição do hormônio da pineal
De acordo com André Luiz, a pineal “segrega hormônios
psiquícos”. Esse conhecimento, em 1945, era uma especulação científica. A
melatonina, hor mônio da pineal, somente foi isolada em 1958, por Lerner e
colaboradores. (LERNER et al., 1958.)
Saúde mental
André Luiz trata a pineal como a glândula da vida mental.
Citado por André Luiz, Alexandre descreve a atividade e função da pineal sobre
a vida mental com as seguintes palavras:
– Não se trata de órgão morto, segundo velhas suposições –
prosseguiu ele. – É a glândula da vida mental. (XAVIER, 2015.)
Os conhecimentos científicos atuais relacionam atividade da
pineal com estados de humor e a utilização da melatonina como tratamento da
depressão, bem como a prevenção do mal de Alzheimer tem sido objeto de
pesquisas ((KALMAN e KALMAN, 2009; QUERA SALVA et al., 2011; QUERA SALVA e
HARTLEY, 2012; COMAI e GOBBI, 2013; DE BERARDIS et al., 2013; WU et al., 2013).
Pineal e função endócrina
Relata André Luiz, ainda em Missionários da luz (ibid.) que
“a glândula pineal conserva ascendência em todo o sistema endócrino”.
As evidências científicas sugerem que a glândula pineal
exerce papel de integradora do sistema neuroendócrino (hormônios e
neuropeptídeos que atuam no cérebro) (CARDINALI et al., 1979).
Pineal e consciência
André Luiz descreve a consciência do ser encarnado como a
manifestação resultante da interação entre Espírito e cérebro, mediada pelo
perispírito, ou corpo espiritual, conforme compreendemos com a leitura do livro
No mundo maior, publicado em 1948 (XAVIER, 2013).
Nesta obra, o cérebro é descrito como a interação de três
compartimentos distintos, representados pelo cérebro inicial, cérebro motor e
lobos frontais. A consciência e o fluxo da consciência se manifestam utilizando
os recursos cerebrais das três áreas.
Uma interface entre a mente e o cérebro aparece como
proposta sustentada por Eccles (1995) que considera o cérebro estrutura capaz
de fazer a ligação entre a consciência (chamada pelo autor de mente
autoconsciente) e a realidade exterior, ou mundo físico.
Em Evolução em dois mundos, publicado em 1958, a relação
entre pineal e consciência é descrita pelo autor com função de […] tradução e
seleção dos estados mentais diversos, nos mecanismos da reflexão e do
pensamento, da meditação e do discernimento […]. (XAVIER, 2014.)
Estudos sobre meditação, que utilizaram a técnica de
Ressonância Magnética Funcional (fRMI) para pesquisar possível papel da
glândula pineal, evidenciaram atividade glandular durante a meditação (LIOU et
al., 2005, 2006, 2007, 2010), confirmando uma das funções antecipadas por André
Luiz em Evolução em dois mundos.
As outras funções relacionando pineal e consciência parecem
encontrar ressonância no conhecimento do papel da ordenação temporal sobre a
memória, que é uma das atribuições importantes da consciência. Armazenamos as
recordações de forma ordenada temporalmente e a região cerebral conhecida como
hipocampo, que envolve diversas estruturas interligadas, é ativada toda vez que
fazemos evocação da memória. A pineal, através de seu hormônio melatonina, tem
papel fundamental na ordenação temporal dos fatos e ocorre ativação da glândula
toda vez em que há evocação de memória (GORFINE e ZISAPEL, 2007).
Conclusão
André Luiz antecipou-se à Ciência trazendo informações sobre
a glândula pineal. Não temos elementos para considerá-lo um “revelador” da
Ciência, entretanto, as informações trazidas pelo Espírito, através de Chico
Xavier, somente puderam ser avaliadas (e confirmadas) mais de quatro décadas
após a publicação de Missionários da luz.
Jorge Cecílio Daher Júnior
Revista Reformador