A palavra
carma vem do sânscrito, antigo idioma hindu consagrado aos cultos nos templos
iniciativos, e significa causa e efeito ao mesmo tempo. Expressa a lei segundo
a qual toda causa gera um efeito equivalente em sentido contrário, abrangendo o
próprio destino do homem. Este conceito está de acordo com o que ensina Allan
Kardec no livro O Céu e o Inferno, página 88, item 9: "Toda falta
cometida, todo mal realizado é uma dívida contraída que deverá ser paga; se não
o for em uma existência, sê-lo-á
na seguinte ou seguintes, porque todas as
existências são solidárias entre si. Aquele que se quita numa existência não
terá necessidade de pagar segunda vez".
A mesma
conotação encontra-se no Evangelho, quando afirma: "Em verdade, em verdade
vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado". (Jo 8, 34)
Contrair dívida ou ser servo do pecado significa prender-se a faltas do
passado, manter-se estagnado sem condições de retomar o caminho da evolução
espiritual. Um dos recursos que a Natureza emprega para realizar a libertação
das faltas cometidas de doenças ou outras modalidades de perturbações que podem
ocorrer na mesma existência ou em existência futura.
Desse modo,
se compreende que o carma não tem a finalidade de punir, mas de harmonizar
espiritualmente o ser humano, com a lei da evolução, libertando-o da estagnação
causada pelas faltas cometidas. Todos os pensamentos, emoções, sentimentos e
atos praticados pela pessoa, durante sua existência atual, geram carmas
específicos que se somam ao carma que traz de vidas passadas, e cujos efeitos
expressam o saldo favorável ou desfavorável que incide na vida presente.
Nenhum acaso
rege o destino das pessoas. É a lei do carma que a tudo coordena, ajusta e
realiza, no nível perispiritual, registrando tanto as ações favoráveis como as
desfavoráveis da vida de cada um. Se a dor ou o infortúnio, sem causa aparente,
batem à porta, não são devidos ao castigo de Deus, nem à fatalidade de um
destino cruel. São, na maioria das vezes, o resultado de ações inflexíveis,
segundo as quais a colheita de cada um é obrigatória, em decorrência do que
semeou nesta vida ou em vidas pregressas, visto ter o carma a finalidade de reajustar
as criaturas à harmonia universal.
A Lei do
Carma pode ser entendida como decorrente da Lei de Causa e Efeito, do retorno
ou reciprocidade, segundo a qual toda ação praticada tem o seu retorno
equivalente e em sentido contrário. Esta lei tem sua conotação no Evangelho
quando afirma que "a cada um será dado segundo as suas obras"(Mt, 16,
27; Ap 22,12) Na Natureza, essa lei é clara, e ninguém espera colher milho se
plantou feijão.
Segundo a
Lei do Carma, se a pessoa não tem disciplina mental para controlar os seus atos
e cometer faltas durante sua existência, terá que enfrentar suas consequências
na própria vida ou em vida futura, pois as mesmas se manterão registradas no
perispírito e se manifestarão como problemas de retorno nesta existência, ou como
doenças ou perturbações cármicas em vida futura.
Se a pessoa
cometeu alguma falta em relação ao seu próprio organismo, prejudicando-o de
diferentes maneiras, como ocorre pelo uso de drogas, entregando-se aos vícios,
à concupiscência e aos desregramentos pessoais, ou se prejudicou os seus
semelhantes e, particularmente, os seus familiares, aos quais tem a
responsabilidade de ajudar, ou se lesou, de alguma forma, a Natureza que a
acolhe dadivosamente, deverá receber como retribuição, algumas vezes na própria
vida ou, certamente, na vida futura, o sofrimento que lhe corresponde como
forma de ressarcir a referida falta, à qual está ligada pelos vínculos da Lei
de Causa e Efeito.
1 - Causas
das Doenças Cármicas
As faltas
cometidas no passado, que podem ser responsáveis pelas doenças cármicas, estão
entre os vícios, como os causados pelo cigarro, pelas bebidas alcoólicas, pelas
drogas, e mesmo pelo uso, sem controle, de medicamentos psicotrópicos,
utilizados no tratamento de distúrbios mentais; a agressividade humana, como a
violência, a maldade, o sequestro, o estupro, o roubo, o assalto, o terror, o
homicídio, a exploração dos semelhantes nas suas diferentes modalidades; o
suicídio premeditado, o sacrifício do organismo por privações inúteis e outras
formas de agressão ao próprio corpo; o hábito de se entregar a pensamento
negativos, como os impregnados por emoções de ódio, ciúme, inveja, raiva,
tristeza, calúnia, insatisfação; os desvios da sexualidade e os estados de vida
pautados na ociosidade, no mau emprego de posições de responsabilidades social
ou administrativa, prejudicando os semelhantes e constituindo mau exemplo para
a sociedade.
As faltas
cometidas no passado, responsáveis por sofrimentos que ocorrem na vida atual,
podem ter sido cometidas pela própria pessoa ou pelos seus familiares, visto
existirem laços espirituais muito estreitos entre os mesmos. Esses laços devem
ser mantidos sempre que possível, pela afeição que deve unir as pessoas, visto
ser a família a escola primeira, para a vivência do amor fraterno entre os
seres humanos.
Todas as
pessoas têm vínculos muito profundos com os seus familiares, vínculos que transcendem
a existência atual, de sorte que a dor que as açoita pode decorrer não apenas
de fatores oriundos de si mesmas, também, de seus entes queridos, como lembra a
mensagem sobre o cego de nascença cujo mal poderia ter sido causado por si
mesmo ou pelos seus familiares. (Jo 9, 1-3)
Além dos
vínculos familiares, as pessoas tem relacionamentos coletivos. Elas podem ter
ajudado ou prejudicado outras criaturas, razão pela qual, além do carma
individual, existe o carma familiar e o carma coletivo. O carma coletivo
explica como, na ocorrência de acidentes, catástrofes, muitas pessoas podem
estar envolvidas no mesmo sofrimento, sem ser por acaso. Não é só a má
sementeira que produz maus frutos. Certos comportamentos aparentemente
inofensivos podem ser danosos à própria alma, como o não aproveitamento das
oportunidades que lhe foram proporcionadas durante a existência terrena, geram,
igualmente, má colheita no futuro.
Do mesmo
modo, a inatividade, a inércia, a ociosidade, a preguiça física e mental, são
igualmente nocivas à alma, que não pode manter-se estagnada em face das leis às
quais está vinculada. Toda pessoa em condições de saúde compatíveis com a
realização de alguma modalidade de trabalho, deve esforçar-se para ser útil a
si mesma e ao próximo.
2 -
Manifestações das Doenças Cármicas
Respeitadas
as leis da hereditariedade, o espírito atua no ser humano como modelo
organizador biológico, desde a formação da célula-ovo, transmitindo para o
corpo físico as impressões registradas no perispírito, oriundas das ações
cometidas pela própria alma em vida pregressa. Assim, certas malformações e
males congênitos e a predisposição para um grande número de doenças e
transtornos que ocorrem durante a vida, são causados pela atuação do espírito,
que projeta no organismo, desde o momento de sua formação, o conteúdo do bem ou
do mal que estiver registrado nas malhas do seu perispírito.
As doenças
cármicas podem acometer as pessoas em todas as idades, e seu reconhecimento não
é feito pelos recursos para diagnósticos comumente utilizados na Medicina, os
quais se apresentam repetidamente negativos. A compreensão das mesmas está
relacionada a fatores que têm suas causas em faltas cometidas no passado,
vinculadas à própria alma. Entre as perturbações que se enquadram como doenças
cármicas, podem ser lembradas algumas limitações orgânicas e psíquicas, certas
formas de paralisias, patologias congênitas sem possibilidades de reequilíbrio,
certos casos de esquizofrenia, algumas modalidades de câncer, de doenças
degenerativas, tendência para os vícios, para a agressividade, alguns casos de
acidentes individuais ou coletivos, certas neuroses, síndromes do medo, de
angústias, de ansiedade incontidas, certos tipos de enxaqueca, de insônia, de
depressão, de pânico.
Joanna de
Ângelis, no livro Plenitude, página 33, 6° parágrafo, comentando certas formas
de transtornos psíquicos, oriundos de causas ocorridas no passado, que podem
passar despercebidos aos semelhantes, afirma: "Transitam, ainda, na Terra,
portadores de expiações que não trazem aparência exterior. São os seres que
estertoram em conflitos cruéis, instáveis e insatisfeitos, infelizes e arredios,
carregando dramas íntimos que os estiolam, afligindo-os sem cessar. Podem
apresentar aparência agradável e conquistar simpatia, sem que se liberem dos
estados interiores mortificantes".
É a própria
consciência das criaturas que conhece as causas do seu sofrimento cármico. São
seres que se comportam como almas penadas que sofrem em silêncio, embora haja
outros que se lastimam continuamente, sem encontrar alívio para suas angústias
e padecimentos. Enquadram-se ainda, como manifestações cármicas, entre outras,
certas injúrias, desigualdades sociais e econômicas, as dificuldades para
realizações pessoais nos estudos, nas artes e em alguns empreendimentos da
vida.
Fonte: Dr.
Roberto Brólio- A Casa do Espiritismo