O
Espiritismo e outras religiões podem levar, a depender do seu uso, as pessoas
ao céu ou ao inferno. Tudo dependerá de como elas irão vibrar após estudar e /
ou praticar essas religiões.
Primeiro,
desmitifique-se a existência de um céu ou de um inferno, tal qual “vendido”
pelas religiões. Há farta literatura e diálogos com os Espíritos gravados em
vídeo que demonstram haver diferentes dimensões de realidade e graus de
consciência, como, aliás, já propõem há décadas os estudiosos da
Transdisciplinaridade com base em substanciais argumentos científicos,
sobretudo da Física.
Encarnados
ou desencarnados, os indivíduos estão a rigor onde eles vibram e atraem o que
vibram. Uma das diferenças é que o encarnado, por estar num corpo físico, fica
como se estivesse preso à matéria grosseira, então, fisicamente, ele está aqui,
presente na Terra e visível aos olhos, mas sua vibração pode estar no umbral ou
até em regiões mais densas, assim como em regiões bem mais sutis. Tudo depende
dos seus pensamentos, das suas escolhas, dos seus comportamentos e das suas
atitudes.
O
desencarnado, por outro lado, pode, salvo no caso de alguns Espíritos
sofredores e outros atípicos, se mover com a força do pensamento e é
rapidamente atraído para dimensões que se afinizam com as vibrações que emite
do seu Espírito.
É assim que
se criam céu e inferno, ou seja, dimensões de luz e de trevas, a partir das
vibrações dos Espíritos, que, em conjunto, plasmam realidades nas quais irão
viver. Enquanto ser divino, que tem Deus dentro de si, os humanos são
co-criadores da realidade.
O umbral
nada mais é do que uma ou mais dimensões de purgação, criadas pelas sombras que
existem nos Espíritos, muitos dos quais atraídos para lá logo após o
desencarne, mas que, mesmo encarnados, já vivem lá vibratoriamente e, por isso,
atraem os seres de lá, que podem terminar se aproveitando de suas fraquezas,
tornando-se os chamados obsessores.
Por conta
dessas razões, mais uma vez chama-se a atenção para a importância do
autoconhecimento, para a compreensão das sombras de cada um e para a busca pela
iluminação dessas sombras. Em vez de se esconder atrás de religiões e de achar
que está emanando uma luz muito maior do que realmente emana, os humanos devem
utilizar as religiões e outras filosofias para “conhecerem a si mesmos”, para
trabalharem as suas sombras, elevando o seu padrão vibratório, emanando luz
para os que estão em volta, colocando-se, assim, numa dimensão mais alta
simplesmente por se afinizar com ela e “puxando” outros para que façam o mesmo.
A prática
das religiões, a frequência em templos e, especialmente, o trabalho dentro
deles ilude muitos humanos, os quais começam a pensar que se tornaram seres
elevadíssimos simplesmente porque rezam no culto ou porque dão passes ou porque
distribuem sopa alguns dias na semana.
Sem querer
obviamente desestimular os rituais nos templos, trabalhos voluntários e a ajuda
ao próximo, que podem ser parte do caminho de elevação da vibração, mais
importante ainda é o ser olhar para dentro e entender se ele está realmente
bem, se os pensamentos que lhe vêm são positivos, se ele está emanando boas
ondas para aqueles a sua volta, se ele acorda pela manhã com gana de viver e
agradecer, se ele não se importa com os que lhe ofendem etc.
Um erro
clássico das religiões é graduar as pessoas, dividir tudo em bom ou mau, Deus
ou Diabo, anjos e não-anjos, incentivando uma competição para ver quem é
melhor, o julgamento de uns sobre os outros e a culpa de quem julga ter feito
algo mau.
O
Espiritualismo bem estudado mostra que todos têm o bem e o mal dentro de si,
cabendo se autoconhecer, lidar bem com a sombra e trabalhá-la para que a luz
prevaleça com cada vez mais força.
O
autoconhecimento é tarefa muito complexa, apesar de não parecer. Quase todos
acham que se conhecem bem exatamente por não se conhecerem. Isso pode ser
explicado de outro modo: o ignorante simplesmente ignora, ou seja, quem não
compreende algo não pode compreender que não compreende.
Daí porque
apenas se sai desse ciclo vicioso com ajuda de atividades que proporcionem o
autoconhecimento e a iluminação das sombras que existem em grande quantidade
dentro de cada ser que vive nesse estágio de evolução, salvo a pouco provável
existência de algum anjo encarnado entre nós.
O estudo
sobre nós mesmos, sobre os padrões vibratórios, sobre os enganos mais cometidos
pelos humanos, sobre suas sombras etc. é um dos caminhos para a iluminação,
porém o estudo intelectual nos põe sob o risco de mantermos esse processo
exclusivamente na cabeça, não o fazendo passar pelo nosso interior e, portanto,
pelo coração.
Conhecimento
que não passa pelo interior, pelo coração, não se torna sabedoria e tende a ser
gerador de arrogância, prepotência, orgulho, vaidade, agressividade e outros
sentimentos trevosos, que são muito comuns nas sombras humanas. Essa é mais uma
prova de que tudo na vida tem um equilíbrio fino. Muito conhecimento pode ser
negativo.
Os
indivíduos precisam ir muito além das suas religiões, buscando conhecer com o
máximo de profundidade as demais e as filosofias que lhes pareçam mais capazes
de ajudar naquela tarefa de autoconhecimento e de iluminação das sombras
interiores.
A Bíblia é
um livro magnífico, mas não adianta lê-la 7 vezes se a pessoa apenas consegue
construir a partir dali conhecimento limitado, não se autoconhecendo o bastante
e, pior, criando inúmeras ilusões sobre quais seriam os caminhos para a sua
ascensão.
O estudo
isolado e mal feito de livros religiosos tem levado em toda a história da
humanidade a um delineamento do mesmo ego do indivíduo numa conformidade do que
um determinado messias ou grupo de Espíritos parece pedir. As pessoas constroem
falsas necessidades, falsos moralismos e pensam ser, a partir dali, os donos da
verdade, por terem à disposição deles supostamente as ferramentas corretas de
iluminação.
Não existe
“O” único livro sagrado, nem “A” ferramenta correta, nem “A” religião
consoladora prometida, nem nenhuma dessas coisas que apenas dão uma falsa
segurança ao ser humano de que ele encontrou o caminho. Existem diversos
caminhos e o ideal é que o máximo deles seja conhecido.
Quando um
estudioso se fecha em uma única disciplina, diversas dimensões dos problemas
ficam às escuras para ele. É por isso que, há muitas décadas, se tem procurado
estudos inter, multi, pluri e transdisciplinares, aqueles que têm conseguido
desvelar mais descobertas nos últimos 70 anos.
O mesmo vale
para o estudo da Espiritualidade, para a busca pelo aumento de vibração, de
iluminação das sombras interiores. O estágio humano atual é atrasado demais
para se pensar que estamos próximos de saber A Verdade. É inocência achar que
uma religião, uma filosofia, um livro pode nos tornar seres extremamente
iluminados.
O trabalho
de iluminação é lento, penoso, mas podemos acelerá-lo na medida em que nos
abrimos para o novo e pesquisamos sobre os nossos próprios pontos cegos. No
atual estágio de existência humana, as sombras são inerentes ao planeta e aos
seus seres. O objetivo desta fase de transição é exatamente trazer mais
Espíritos para a luz, reduzindo suas sombras, criando ao menos boa vontade,
para que se possa constituir lentamente um mundo de regeneração, no qual a luz
prevalece.
No momento
atual, e nos últimos milênios da Terra, a sombra de certa forma prevaleceu,
ainda que saibamos que os seres de luz estão a guiar tudo. Até hoje há muita
desigualdade, preconceitos, corrupção, se mata por pequenas coisas, há muitas
guerras e riscos até de uma catastrófica guerra nuclear.
O
Espiritismo e as demais religiões e filosofias devem procurar o máximo de
abertura e integração com o seu entorno, desestimulando fortemente o
preconceito, a intolerância. Um real conhecimento sobre algo é aquilo que pode
afastar preconceitos.
As pessoas
precisam parar de imediatismos, de achar que são iluminadas porque têm uma
religião ou porque fazem meia dúzia de trabalhos voluntários, ou mesmo que se
tornarão iluminadas em curto prazo apenas por conta disso. É preciso expandir a
consciência, auto avaliar-se em todos os momentos do dia, buscar emanar paz,
caridade e humildade em cada pensamento, escolha, comportamento e até no
silêncio.
Fonte:
Gazeta Espirita. POR MARCOS VILLAS-BÔAS