A perda dos
entes que nos são caros não constitui para nós legítima causa de dor, tanto
mais legítima quanto é irreparável e independente da nossa vontade?
“Essa causa
de dor atinge assim o rico, como o pobre: representa uma prova, ou expiação, e
comum é a lei. Tendes, porém, uma consolação em poderdes comunicar-vos com os
vossos amigos pelos meios que vos estão ao alcance, enquanto não dispondes de
outros mais diretos e mais acessíveis aos vossos sentidos.”
935. Que se
deve pensar da opinião dos que consideram profanação as comunicações com o
além-túmulo?
“Não pode
haver nisso profanação, quando haja recolhimento e quando a evocação seja
praticada respeitosa e convenientemente. A prova de que assim é tendes no fato
de que os Espíritos que vos consagram afeição acodem com prazer ao vosso
chamado. Sentem-se felizes por vos lembrardes deles e por se comunicarem
convosco. Haveria profanação, se isso fosse feito levianamente.”
Comentário
de Allan Kardec:
A
possibilidade de nos pormos em comunicação com os Espíritos é uma dulcíssima
consolação, pois que nos proporciona meio de conversarmos com os nossos
parentes e amigos, que deixaram antes de nós a Terra. Pela evocação,
aproximamo-los de nós, eles vêm colocar-se ao nosso lado, nos ouvem e
respondem. Cessa assim, por bem dizer, toda separação entre eles e nós.
Auxiliam-nos com seus conselhos, testemunham-nos o afeto que nos guardam e a
alegria que experimentam por nos lembrarmos deles. Para nós, grande satisfação
é sabê-los ditosos, informar-nos, por seu intermédio, dos pormenores da nova
existência a que passaram e adquirir a certeza de que um dia nos iremos a eles
juntar.
936. Como é
que as dores inconsoláveis dos que sobrevivem se refletem nos Espíritos que as
causam?
“O Espírito
é sensível à lembrança e às saudades dos que lhe eram caros na Terra; mas, uma
dor incessante e desarrazoada o toca penosamente, porque, nessa dor excessiva,
ele vê falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um
obstáculo ao adiantamento dos que o choram e talvez à sua reunião com estes.”
Comentário
de Allan Kardec:
Estando o
Espírito mais feliz no Espaço que na Terra, lamentar que ele tenha deixado a
vida corpórea é deplorar que seja feliz. Figuremos dois amigos que se achem
metidos na mesma prisão. Ambos alcançarão um dia a liberdade, mas um a obtém
antes do outro. Seria caridoso que o que continuou preso se entristecesse
porque o seu amigo foi libertado primeiro? Não haveria, de sua parte, mais
egoísmo do que afeição em querer que do seu cativeiro e do seu sofrer
partilhasse o outro por igual tempo? O mesmo se dá com dois seres que se amam
na Terra. O que parte primeiro é o que primeiro se liberta e só nos cabe
felicitá-lo, aguardando com paciência o momento em que a nosso turno também o
seremos.
Façamos
ainda, a este propósito, outra comparação. Tendes um amigo que, junto de vós,
se encontra em penosíssima situação. Sua saúde ou seus interesses exigem que vá
para outro país, onde estará melhor a todos os respeitos. Deixará
temporariamente de se achar ao vosso lado, mas com ele vos correspondereis
sempre: a separação será apenas material. Desgostar-vos-ia o seu afastamento,
embora para o bem dele?
Pelas provas
patentes, que ministra, da vida futura, da presença, em torno de nós, daqueles
a quem amamos, da continuidade da afeição e da solicitude que nos dispensavam;
pelas relações que nos faculta manter com eles, a Doutrina Espírita nos oferece
suprema consolação, por ocasião de uma das mais legítimas dores. Com o
Espiritismo, não mais solidão, não mais abandono: o homem, por muito insulado
que esteja, tem sempre perto de si amigos com quem pode comunicar-se.
Impacientemente
suportamos as tribulações da vida. Tão intoleráveis nos parecem, que não
compreendemos possamos sofrê-las. Entretanto, se as tivermos suportado
corajosamente, se soubermos impor silêncio às nossas murmurações,
felicitar-nos-emos, quando fora desta prisão terrena, como o doente que sofre
se felicita, quando curado, por se haver submetido a um tratamento doloroso.
Autor-
Allan
Kardec perda de entes queridos Evangelho Segundo o Espiritismo