Kardec, sempre inspirado pelo Espírito de Verdade, na sua vasta
obra, jamais considerou o espiritismo como uma religião.
E dizemos mesmo que existiu uma simbiose psíquica perfeita com o Espírito
de Verdade, como poderemos ver nas suas "Obras Póstumas", na mensagem
dos Espíritos de Setembro de 1863, onde poderemos ler: "... teu cérebro
apreende as nossas inspirações com a facilidade com que tu mesmo as percebes. A
nossa atuação, principalmente a do Espírito de Verdade, e constante sobre ti e
tal que dela não podes esquivar-te." O Espírito de Verdade e o Codificador
estavam demasiado conscientes dos graves prejuízos que as religiões realizaram
na sociedade ao longo dos séculos. A carga psicológica negativa que exerciam na
consciência das criaturas era demasiado pesada, escravizava as consciências em
lugar de as libertar. As religiões estavam associadas a intolerância, a
dominação e ao proselitismo que levou a muitas violências no esforço de impor
aos outros as suas convicções, os seus dogmas de fé; estavam indelevelmente
ligadas ao obscurantismo, aos privilégios (a "graça"), ao
sobrenatural, ao milagre como derrogação das leis de Deus, as hierarquias
sacerdotais que se arrogavam de representantes de Deus na Terra (sempre o
"poder"); estavam impregnadas de rituais e outras praticas, quase
sempre de caráter exterior; etc.
Todas essas crenças, praticas e estruturas são incompatíveis com a
nova doutrina que e profundamente simples, racional e tolerante e que nos diz
que a "Fé inabalável e somente aquela que pode encarar a razão, face a
face, em todas as épocas da humanidade."
Allan Kardec, cinco meses antes do seu pensamento, proferiu na
Sociedade Espírita de Paris um discurso em que nos disse por que razão o
espiritismo não e uma nova religião. Desse discurso, que se poderá ler
integralmente na "Revue", extraímos o seguinte extrato:
"Por que, então, declaramos que o Espiritismo não e uma
religião? Porque não ha uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e
que, na opinião geral, a palavra religião e inseparável da de culto; desperta
exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo
se dissesse uma religião, o publico não veria ai senão uma nova edição, uma
variante, se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta
sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e privilégios; não
separaria das idéias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes se
levantou a opinião publica. Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de
uma religião, na acepção usual do vocábulo, não podia nem devia enfeitar-se com
o titulo sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis porque
simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral."
Nas suas "Obras Póstumas", Kardec diz-nos o seguinte:
"O Espiritismo é uma doutrina filosófica espiritualista. Por isso toca
forçosamente nas bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a
vida futura. Mas não e uma religião constituída, visto não ter nem culto, nem
rito, nem templo e, entre os seus adeptos, nenhum recebeu o titulo de sacerdote
ou grão-sacerdote."
E mais, diz-nos que o espiritismo não e incompatível com a
ciência, o que não acontece com as religiões: "O Espiritismo marcha de
acordo com a Ciência no terreno da matéria: admite todas as verdades que ela
comprova, mas onde terminam as investigações desta, prossegue as suas no
terreno da espiritualidade."
Destas afirmações do Codificador tornamos a frisar, sempre
escoradas no Espírito de Verdade que nunca o deixou de inspirar na sua missão,
como já vimos podemos entender em definitivo porque o espiritismo não e mais
uma religião e nem o centro espírita um templo religioso, mas sim a casa onde
estudamos a doutrina espírita; onde socorremos os doentes da alma, exercitando
assim a fraternidade; onde exercitamos a mediunidade de forma responsável,
nomeadamente a serviço fraterno dos espíritos materializados e sofredores que
necessitam ainda da palavra e ambientes humanos, para serem esclarecidos e amparados;
onde, também, aprendemos a orar.
O centro espírita e a escola e o hospital da alma, ao mesmo tempo.
O espírito Emmanuel diz-nos que "E a Universidade da alma, onde as lições
de Jesus estão empenhadas em nossas mãos."
(Extrato do trabalho "Espiritismo: religião futura ou futuro
das religiões", apresentado no II Congresso Nacional de Espiritismo em
Portugal e enviado por José Lucas)
(Retirado do Boletim GEAE Número 274 de 06 de Janeiro de
1998)"