"Àquele que tem, mais será dado
e àquele que não tem, até o que pensa ter, ser-lhe-á tirado.”
O Consolador – Leonardo Marmo Moreira
Esse interessante aforismo evangélico
é ainda motivo de indagações profundas em relação ao seu significado em termos
da Lei de Causa e Efeito.
Tal comentário de Jesus necessita ser
associado a conquistas de valores espirituais e não de posses efêmeras,
suscetíveis às alternâncias circunstanciais da vida material.
Quem tem grande potencial, ou seja,
um elevado talento intelecto-moral terá mais condições de desenvolver obras de
maior envergadura para o avanço espiritual concomitante de si mesmo e da
sociedade.
Realmente, a Questão 132 de O Livro
dos Espíritos estabelece que as tarefas primordiais do esforço reencarnatório
consistem na própria evolução espiritual do Espírito reencarnado e, ao mesmo
tempo, na participação como colaborador da Obra da Criação.
Logo, à medida que evoluímos
individualmente colaboramos com a evolução de todos à nossa volta, uma vez que
a nossa evolução dá-se através de contato social (Lei de Sociedade) e dos
esforços inerentes a essa interação (Lei de Trabalho, Lei de Justiça, Amor e
Caridade, entre outras).
Esse raciocínio bem simples e
acessível é respaldado, inclusive, por outras passagens evangélicas como a
própria “Parábola dos Talentos”.
Ocorre, porém, que vários indivíduos
talentosos fracassam em suas tarefas reencarnatórias. André Luiz, em sua obra
“Os Mensageiros”, relata em vários capítulos as experiências frustradas de
companheiros que desencarnaram com realização espiritual pífia.
A intensidade do fracasso está
relacionada à capacidade do fracassado, ao tempo de preparo, às oportunidades
disponíveis e à relevância dos objetivos previamente traçados pelos próprios
protagonistas dessas vivências em colaboração com mentores espirituais
extremamente preparados e experientes.
Ressalta-se que as tarefas destes
casos supracitados estavam centradas em trabalhos de cunho espiritual,
destacando-se o papel de médiuns e doutrinadores.
Além disso, o autor espiritual, que
havia sido médico na última encarnação, analisa o próprio fracasso como ser
humano de uma forma geral em relação a outros médicos que fracassaram
especificamente no desempenho da atividade médica.
Também é digna de registro a obra
“Tormentos da Obsessão” (Manoel Philomeno de Miranda/Divaldo Pereira Franco)
que relata grande número de casos envolvendo espíritas fracassados em suas
reencarnações, os quais foram socorridos no “Hospital Esperança” pelo Mentor Espiritual
Eurípedes Barsanulfo e sua equipe.
Em muitos exemplos, as falências
espirituais de criaturas talentosas acontecem, pois, apesar de indiscutíveis
conquistas prévias em determinada área, o Espírito reencarnante traz falhas
espirituais, sobretudo morais, que acabam afetando o trabalho específico que
ele deveria realizar, mesmo que esse indivíduo tenha realmente imenso cabedal
em certo setor evolutivo.
Assim, as diversas mazelas
intelecto-morais em outras áreas do comportamento humano dificilmente permitem
que o candidato à realização espiritual consiga manifestar plenamente seu
talento, pois a indisciplina, a falta de força de vontade e a ausência de ideal
superior, entre outras características pessoais, são tendências inferiores que
limitam o desenvolvimento de maior amplitude de tarefas.
Até mesmo pequenos trabalhos podem
ser comprometidos, pois traços de personalidade inferior como a intolerância e
a impaciência suprimem frequentemente a manutenção de esforços de longo prazo,
favorecendo o desperdício de oportunidades.
É importante frisar que “Deus não dá
fardos pesados a ombros frágeis”, significando dizer que, se o indivíduo
fracassa, ele deve atribuir essa queda espiritual à sua própria negligência,
uma vez que o livre-arbítrio é alicerce da Lei de Deus.
No entanto, mesmo assim, estas
experiências fracassadas, se bem estudadas e assimiladas, podem trazer
aprendizados que serão as bases para realizações vitoriosas no futuro.
Por isso, quando não pudermos
realizar totalmente nossas tarefas, tentemos, ao menos, realizar parcialmente,
pois o nosso futuro espiritual será construído a partir das nossas construções
do presente.
“Todo esforço de hoje é uma
facilidade a sorrir amanhã”, nos ensina Emmanuel na obra “Palavras de Vida
Eterna”, implicando que todo tempo perdido hoje será sempre oportunidade de
crescimento desperdiçada a ser lembrada no dia de amanhã, quando as
circunstâncias da vida podem não mais favorecer a referida realização.
Quando o indivíduo detém vários
talentos, os quais são conquistas espirituais pretéritas, essas potencialidades
atuam sinergicamente, fomentando o desenvolvimento de obras de maior
complexidade.
Em outras palavras, quanto mais
pré-requisitos intelecto-morais, maior a probabilidade de sucesso espiritual na
encarnação, uma vez que mais recursos o Espírito reencarnado terá para
“driblar” os obstáculos e as armadilhas do caminho existencial.
Mesmo quando fraqueja
espiritualmente, é possível que consiga realizar significativa obra, pois suas
habilidades favorecem o surgimento e o aproveitamento de bom número de
oportunidades.
Estes casos de Espíritos com grande
capacidade que realizam parcialmente as suas tarefas são muito interessantes,
pois podem gerar conflitos espirituais e complexos de culpa, mesmo quando tais
companheiros são altamente reconhecidos pelo que realizaram, especialmente na
análise dos encarnados.
Acontece que o autoexame sincero
demonstra uma extensa perda de oportunidades e até mesmo aquisição de débitos,
os quais passariam praticamente despercebidos se fossem associados a criaturas
com menor cabedal espiritual.
Todavia, como a Lei de Deus está
escrita na consciência da própria criatura, os Espíritos em questão constatam
que poderiam ter feito muito mais por si mesmos e pela humanidade, pois o nível
de consciência dessas criaturas já é bem elevado.
Assim sendo, quando nos sentimos
detentores de poucos talentos, devemos ter alta vigilância e disciplina, porque
somente o foco, o esforço no trabalho e a humildade frente às nossas
fragilidades farão com que não “caiamos em tentações”, não nos deixando levar
por interesses tortuosos que nos desviem de nossas tarefas principais,
atrapalhando a manifestação de nosso talento espiritual, que representa os dons
divinos em nós.
Interessantemente, a vigilância e a
disciplina também são fundamentais quando alguns irmãos se sentem detentores de
grandes possibilidades, pois as responsabilidades são evidentemente maiores:
“Muito será cobrado a quem muito foi dado”.
Os Espíritos que já trazem um
expressivo leque de habilidades podem, eventualmente, deixarem-se levar por
interesses, muitas vezes dignos, mas não tão prioritários em relação aos
compromissos assumidos previamente.
Neste contexto, é muito sugestiva a
famosa recomendação de Emmanuel em seu primeiro contato com Chico Xavier,
asseverando a relevância da disciplina nas tarefas espirituais.
Sabendo-se que “reconhece-se a árvore
pelos frutos”, devemos nos auto avaliar constantemente para identificarmos as
consequências concretas de nossas ações efetivas na vida física.
Se os efeitos dessas atitudes não têm
representado valores do bem, da utilidade e da verdade, devemos repensar os
caminhos que estamos trilhando, sob pena de nos vermos pelejando por questões
com pouco valor espiritual em nossos esforços diários.
“Reconhece-se o verdadeiro espírita
pela sua transformação moral e pelos esforços que empreende para domar suas más
inclinações.”
Portanto, o verdadeiro Espírita busca
sua melhoria pessoal de forma sistemática, o que deve repercutir diretamente
nos sentimentos, pensamentos e atitudes de cada adepto do Espiritismo, e, consequentemente,
no aproveitamento das oportunidades evolutivas e na construção da obra no bem.
O Consolador – Leonardo Marmo Moreira
Fonte Espíritbook