Todos nós, os seres inteligentes da Criação, somos
Espíritos, encarnados ou desencarnados, isto é, os que temos o corpo físico ou
os que não o temos, ou, melhor ainda, os que estamos desvestidos do corpo
físico, respectivamente.
Criados por Deus, simples e ignorantes, partimos todos das
mesmas condições, do mesmo ponto inicial, com idênticas oportunidades e com
livre-arbítrio, sendo certo que, depois de criados, passamos a ser imortais.
Assim, passamos por experiências corporais sucessivas, em
que o renascimento na carne é continuação da vida, assim como a morte do corpo
físico, que se decompõe e se transforma, não impede que o Espírito prossiga
vivendo, em outro nível de vibração, razão pela qual não é difícil concluir que
o Espírito ou a Alma, o verdadeiro ser, o ser pensante da Criação, tem a sua
individualidade preservada, sempre, e viverá eternamente.
Em cada experiência corporal, que é indiscutivelmente
transitória e breve, mesmo quando centenária, tem o Espírito a oportunidade de
ampliar o seu conhecimento e de aperfeiçoar-se, intelectual e moralmente,
avançando sempre.
Para exemplificar, quando erra e se compromete, a criatura
retorna à mesma situação para aprender e reparar. O aprendizado pode se dar na
Terra, um dentre tantos mundos habitados, uma verdadeira escola, onde todos nos
encontramos matriculados para aprender, muito aprender. A reparação, de sua
parte, é individual e personalíssima, vale dizer, não se transfere a ninguém,
de modo que os erros, males e equívocos cometidos anteriormente hão de ser
corrigidos pela própria criatura, sem qualquer possibilidade de delegação deste
compromisso. Por isso, embora não pareça, tantas e tantas vezes, o sofrimento é
a educação que disciplina e corrige.
O sofrimento, por esse modo, faz parte da vida, podendo ser
físico ou moral. Encarnados ou desencarnados, no corpo físico ou fora dele,
portanto, fazemos parte da vida, que é única, não obstante composta por várias
existências. Com reflexão e, sobretudo, com a utilização dos ensinamentos da
veneranda e abençoada Doutrina Espírita, o entendimento desse mecanismo, dessa
verdadeira alavanca de crescimento e de progresso, que chamamos de sofrimento
ou de dor, torna-se deveras facilitado.
Com efeito, vivemos na Terra, um planeta de provas e de
expiações, de categoria inferior no Universo, que supera apenas os chamados
mundos primitivos, e, o que é mais grave, onde ainda prevalecem o mal e a
imperfeição.
O nosso sofrimento pode se originar de existências passadas,
remotas ou não, ou mesmo da presente reencarnação, e está fortemente vinculado
à sensibilidade de cada um, variando, portanto, e muito, de pessoa para pessoa.
A reencarnação, verdadeira bênção da oportunidade, permite
que reparemos, parcial ou integralmente, os nossos erros, males e equívocos
passados, ajustando-nos ou reajustando-nos com as Leis Naturais ou Divinas,
que, sendo perfeitas, não sofrem alteração, valendo para todo o Universo e para
todos os seres, individualmente. Embora nem sempre se perceba claramente, há
Leis imutáveis regendo a Vida, como um todo, queiramos ou não, gostemos ou não,
acreditemos ou não. A atenta observação do dia-a-dia, entretanto, conduzirá a
esta conclusão.
Por outro lado, nós, os encarnados, de um modo geral, convivemos
com tribulações, aflições e dificuldades de variada ordem, seja porque não
gozamos de boa saúde, seja porque temos dificuldades financeiras, porque
estamos desempregados, porque receamos a doença, a pobreza e a violência, que
campeiam cada vez mais em toda parte, porque sofremos de solidão, de desamor,
ou porque temos insucesso nas tarefas que iniciamos, etc., revelando, em
primeiro lugar, o nosso despreparo para os fenômenos normais da existência, em
que o ser humano, ainda que não se dê conta, é o único responsável pelo que lhe
acontece e pelo seu destino, sendo certo que o futuro está em suas mãos, uma
vez que “a cada um será dado de conformidade com as suas obras”.
Por isso, é necessária e urgente a atenção para os ensinos
da Vida, que se desdobram em nosso dia-a-dia, de que nada se modificará, se não
se modificarem mentalidades e posturas.
Cabe-nos, individualmente, o dever de cumprir os nossos
compromissos, de qualquer ordem, com responsabilidade, com esmero, fazendo a
nossa parte e fazendo-a do melhor modo possível, qualquer que seja o campo da
atividade humana, conscientizando-nos de que vivemos em regime de
interdependência, ou seja, em que todos dependemos uns dos outros, para o
equilíbrio e a harmonia das relações sociais, sem a aflição, contudo, de querer
consertar os outros ou modificar o mundo.
O sofrimento pode ser conduzido pelo conhecimento e pela
força de vontade, assim como pode ser sensivelmente diminuído e, às vezes, até
mesmo eliminado, pelo uso da razão.
Com efeito, o uso do raciocínio indica que o ódio, o ciúme,
a raiva, a rebeldia, o rancor, a irritação, a violência, etc., só ampliam o
sofrimento, criando desarmonia, ou ainda mais desarmonia, na intimidade de cada
um, e, com isso, no mínimo, prejudicando a saúde física e mental de quem nutre
tais sentimentos.
Logo, parece ser muito mais razoável e sensato enfrentar as
dificuldades e padecimentos com resignação, coragem e bom ânimo, a fim de poder
removê-los, usando o conhecimento, principalmente o conhecimento sobre nós mesmos,
para bem compreender o que se passa e, assim, vencer o sofrimento, avançando
contínua e permanentemente.
Também será importante que não agravemos o nosso sofrimento
ou a nossa dor, o que facilmente acontece quando se utiliza do tabaco, das
bebidas alcoólicas e das drogas, inúmeras vezes responsáveis pelo conduzimento
do indivíduo à loucura e ao suicídio e, na melhor das hipóteses, responsáveis
pelas graves enfermidades que se instalam em seus usuários, de que são
exemplos, entre outros, o câncer de variada espécie, o infarto do miocárdio e
outros males cardíacos, além de outras tantas e inúmeras doenças que carcomem a
criatura, física e moralmente.
Neste passo, convém salientar que o maior antídoto para o
sofrimento e a dor é o Amor, sem qualquer dúvida, a Lei Maior da Vida.
A ausência de amor a Deus, ao próximo ou a si mesmo, produz
insatisfação, desajuste, desequilíbrio, fatores de doenças e sofrimentos.
Como bem o salienta Joanna de Ângelis, Espírito, no livro
Plenitude, “A vida é impossível sem o amor, dinâmico, que induz à ação
construtiva, responsável pelo progresso”, acrescentando que “O Bem anula o mal
e suas consequências”, para enfatizar ainda e oportunamente que “As ações
meritórias fazem cessar o sofrimento: silêncio ante as ofensas, perdão às
agressões e esquecimento do mal”.
Assim sendo, destas ligeiras considerações sobre assunto tão
complexo e extenso, pode-se concluir claramente a razão pela qual o ensino
máximo de Jesus de Nazaré, o Cristo, modelo e guia da Humanidade, nosso mestre
e amigo de todas as horas, está consubstanciado na célebre, concisa e
absolutamente perfeita sentença, aconselhando que todos nós: “Amemos a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”.
(Jornal Mundo Espírita de Junho de 2000)
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