Os mundos
progridem fisicamente pela elaboração da matéria, e normalmente pela
purificação dos Espíritos que o habitam. A felicidade existe nele, em razão da
predominância do bem sobre o mal, e a predominância do bem é o resultado do
progresso moral dos Espíritos. O progresso intelectual não basta, pois que com
a inteligência, eles podem fazer o mal. Logo que um mundo alcança um dos seus
períodos de transformação que o deve fazer galgar a hierarquia, operam-se
mutações em sua população encarnada e desencarnada; é então que se realizam as
grandes emigrações e imigrações. Aqueles que, apesar de sua inteligência e de
seu saber, perseveraram no mal, em sua revolta contra Deus e suas leis, seriam
a partir de então um entrave ao progresso moral ulterior, uma causa permanente
de dificuldades ao repouso e felicidade dos bons; é por isso que são excluídos
e enviados a mundos menos adiantados; lá eles aplicarão sua inteligência e a
intuição de seus conhecimentos adquiridos, ao progresso daqueles em cujo meio
são chamados a viver, ao mesmo tempo que expiarão, numa série de existências
penosas e através de um duro trabalho, suas faltas passadas e seu endurecimento
voluntário.
Que serão
eles, no meio de tais povos, novos para eles, ainda na infância da barbárie,
senão anjos ou Espíritos decaídos, enviados em expiação? A Terra da qual foram expulsos não será para eles um paraíso perdido? Ela não era, para esses
degredados, um lugar de delícias, em comparação com o meio ingrato onde vão se
encontrar relegados, durante milhares de séculos, até o dia em que terão
merecido sua libertação? A vaga recordação intuitiva que conservarão, é para
eles como uma miragem longínqua que os faz lembrar aquilo que perderam por suas faltas.
Porém ao
mesmo tempo que os maus partem do mundo que habitavam, são substituídos por
Espíritos melhores, vindos talvez da erraticidade desse mesmo mundo ou de um
mundo menos adiantado que deixaram por merecimento, e para os quais sua nova
residência é uma recompensa. A população espiritual sendo assim renovada e
purgada de seus piores elementos, no fim de algum tempo fará com que o estado
moral do mundo se encontre melhorado.
Estas
mudanças são algumas vezes parciais, isto é, limitadas a um povo, a uma raça;
outras vezes, são gerais, quando o período de renovação chegou para o globo.
A raça
adâmica tem todos os caracteres de uma raça proscrita; os Espíritos que dela
fazem parte foram exilados sobre a Terra, já povoada porém por homens
primitivos, mergulhados na ignorância, e que eles têm por missão fazer
progredir, trazendo-lhes as luzes de uma inteligência desenvolvida. Não será esse,
com efeito, o papel que esta raça executou até hoje? Sua superioridade
intelectual prova que o mundo de onde saíram era mais adiantado que a Terra;
porém, devendo aquele mundo entrar numa nova fase de progresso, e esses
Espíritos, por via de sua obstinação, não tendo sabido se colocar à altura
desse progresso, ali estariam deslocados, e teriam sido um entrave à marcha
providencial das coisas; é por isso que eles foram excluídos, enquanto que
outros mereceram substituí-los.
Ao relegar
essa raça sobre esta terra de labores e de sofrimentos, Deus teve razão de lhes
dizer: "Tirarás teu alimento com o suor de teu rosto." Em sua
mansuetude, prometeu-lhe que enviaria o Salvador, isto é, aquele que deveria
clarear seu caminho pelo qual sairia deste lugar de misérias, deste inferno, e
chegaria à felicidade dos eleitos. Este Salvador, ele o enviou na pessoa do
Cristo, que ensinou a lei de amor e de caridade, desconhecida deles, e que
devia ser a verdadeira âncora de salvação.
É igualmente
com a finalidade de fazer progredir a humanidade num sentido determinado, que
os Espíritos superiores, sem ter as qualidades do Cristo, se encarnam de tempos
a tempos sobre a Terra, para ali realizar missões especiais que ao mesmo tempo
resultam em seu progresso pessoal, se eles as executarem segundo as finalidades
do Criador.
Sem a
reencarnação, a missão do Cristo seria um contrassenso, assim como a promessa
feita por Deus. Suponhamos, com efeito, que a alma de cada homem seja criada
com o nascimento de seu corpo, e que ela nada faça senão aparecer e desaparecer
sobre a Terra; não há nenhuma relação entre as que vieram desde Adão, até Jesus
Cristo, nem entre aquelas que vieram depois; serão todas estranhas umas às
outras. A promessa de um Salvador feita por Deus não poderia se aplicar aos
descendentes de Adão, se suas almas não tivessem ainda sido criadas. Para que a
missão do Cristo pudesse ligar-se às palavras de Deus, era preciso que tais
palavras pudessem se aplicar às mesmas almas. Se essas almas forem novas, não
podem ser manchadas pela falta do primeiro pai, o qual nada mais é senão o pai
carnal, e não o pai espiritual; por outro modo Deus teria criado almas
manchadas por uma falta que não podia recair sobre elas, pois ainda não
existiam. A doutrina vulgar do pecado original implica, pois, a necessidade de
uma relação entre as almas do tempo do Cristo com as do tempo de Adão, e por
conseguinte, a reencarnação. Admiti que todas essas almas faziam parte da
colônia de Espíritos exilados sobre a Terra no tempo de Adão, e que elas eram
manchadas por vícios que as haviam excluído de um mundo melhor, e tereis a
única interpretação racional do pecado original, pecado próprio de cada
indivíduo, e não o resultado da responsabilidade da falta de outrem, que ele
jamais terá conhecido; dizer que essas almas ou Espíritos renascem por diversas
vezes sobre a Terra, na vida corporal, para progredir e se purificar; que o
Cristo veio iluminar essas mesmas almas não somente por suas vidas passadas,
mas também por suas vidas ulteriores, e somente assim vós dareis à sua missão
uma finalidade real e séria, aceitável pela razão.
A GENESE DE
ALLAN KARDEC
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