O saudoso
escritor Carmo Bernardes considerava muito importante a presença de animais
domésticos numa casa, em contato com as crianças.
Assim, elas
crescem amando e respeitando os bichos, porque aprendem que eles sofrem tanto
quanto nós mesmos - dizia o sábio regionalista.
Por que
sofrem os animais? Eis aí um tema a exigir muitos e profundos estudos, aos
quais a Doutrina Espírita oferece os primeiros fundamentos.
Agora mesmo,
com o mal da vaca louca nas manchetes da imprensa, ficamos nos perguntando o
motivo dessas epidemias que dizimam milhares e até milhões de bovinos.
A chave para
a explicação pode estar no abate desenfreado de gado para alimentação humana.
Ainda sem livre arbítrio, a alma animal tem necessidade do aprimoramento, num
processo reencarnatório estabelecido pela Natureza. O homem o interrompe
violentamente e a resposta é a doença coletiva, porque o equilíbrio natural foi
abruptamente partido.
A alma
animal já possui, em maior ou menor quantidade, uma relativa liberdade, e
mantém a individualidade depois da morte. Ainda sem livre arbítrio, contudo,
ela não dispõe da faculdade de escolha desta ou daquela espécie para renascer.
Seu espírito progride, reencarnando em corpos cada vez mais capazes de lhe
favorecerem condições para as primícias do raciocínio acima do instinto.
Entre o
espírito do homem e os espíritos dos animais, todavia, a distância é quase do
tamanho da existente entre Deus e o homem. É um mistério que a mente humana só
muito lentamente aclarará.
A alma
animal, que já passou pelo reino mineral, onde a individualidade não existe,
evoluiu através do reino vegetal e um dia iniciará a longa caminhada da espécie
humana em direção à angelitude.
Mas é muito
difícil raciocinar nesses termos devido ao ranço das religiões sectárias, ao
orgulho, pretensão, vaidade e egoísmo próprios da espécie humana. O
egocentrismo persiste até hoje e é ele quem impede à esmagadora maioria das
pessoas aceitar a existência do vida em outros planetas, embora Jesus tenha
afirmado, há dois mil anos, que a casa do Pai tem muitas moradas.
Discípulo de
Herbert Spencer, Ernesto Bozzano trouxe da escola positivista o hábito de se
apoiar no fato para dele tirar conclusões. Seu audacioso livro 'Os animais têm
alma?' Produzido na primeira metade do século XX, é fruto de pesquisas sérias
realizadas em 130 casos de aparições e outros fenômenos supranormais com
animais.
No prefácio
da edição brasileira de sua obra, Francisco Klors Werneck lamenta que,
geralmente preocupados com outros problemas, os homens não dêem atenção a seus
irmãos inferiores, aos grandes e pequenos seres da criação como cavalos, cães,
gatos e outros, “como se eles também não tivessem alma, não possuíssem
sentimentos afetivos e mesmo faculdades surpreendentes.”
Ele cita que
alguns animais percebem a morte próxima, como cavalos e bois que se recusam a
entrar no matadouro, advertidos, ninguém sabe como, do que os espera lá dentro.
Animais, como os cães, se deixam morrer depois da morte de seus donos, tal a
desesperada saudade que sentem deles. Um famoso cavalo de corrida se tornou de
tal afeição por uma cabra que não aceitava se separar dela.
'Os animais
têm alma?' Dá a entender que os cães podem ser a espécie mais evoluída na
escala animal. Relata o fato surpreendente do cão que avançou ferozmente contra
outro e parou sem o agredir, ao verificar que era cego. Outro, mais
extraordinário ainda, do cirurgião que tratou, em sua própria casa, de um
cachorro que tivera a pata esmagada. Passados doze meses, o médico ouviu
estranhos arranhões na porta da rua, abriu-a e espantou-se. O cão que curara um
ano antes lhe trazia um companheiro com a pata esmagada.
Fato
parecido é comum na Cavalaria da Polícia Militar do Estado de Goiás, em
Goiânia, onde cavalos com dor de barriga procuram por conta própria o
consultório do veterinário, segundo nos contou o doutor Francisco Godinho, que
ali trabalha há muitos anos.
Há uma
página admirável de Emmanuel, intitulada Animais em sofrimento, na qual ele
analisa o que parece injustiça: os animais, isentos da lei de causa e efeito,
sem culpas a expiar por serem irracionais, padecerem sacrifícios e dores neste
mundo.
O notável
instrutor espiritual de Francisco Cândido Xavier considera, em primeiro lugar,
ser necessário interpretar o sofrimento por mais altos padrões de entendimento.
Ninguém sofre tão-somente para resgatar o preço de alguma coisa. Sofre-se
também angariando recursos preciosos para a obter. Assim é que o animal
atravessa longas eras de prova a fim de domesticar-se, tanto quanto o homem atravessa
outras tantas longas eras para se instruir.
Nenhum
espírito obtém elevação ou cultura por osmose, mas unicamente através do
trabalho paciente e intransferível.
O animal,
igualmente, para chegar à auréola da razão, deve conhecer benemérita e cumprida
fieira de experiências que terminarão por lhe conferir a posse definitiva do
raciocínio. Sem sofrimento, não há progresso.
Todo ser,
criado por Deus simples e ignorante, é compelido a lutar pela conquista da
razão, para em seguida a burilar. Dor física no animal é passaporte para mais
amplos recursos nos domínios da evolução. Dor física no homem, acrescida de dor
moral, é fixação de responsabilidade em trânsito para a Vida Maior.
Toda
criatura caminha para ser anjo: investida na posição de espírito sublime, livra-se
da dor, porque o amor lhe será sol no coração, dissipando as sombras ao toque
da sua própria luz.
Jávier
Godinho
Revista
Espírita Allan Kardec – nº48
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