Segundo a
doutrina espírita, todo ser humano tem a capacidade de se comunicar com os
mortos do mundo espiritual. Não é um dom sobrenatural - é uma habilidade
física, ligada à glândula pineal, no centro do cérebro, que capta o sinal do
"além" como se fosse uma onda magnética e o converte em percepções. O
que difere em cada um é a sensibilidade para interpretar essas percepções.
Alguns entendem como pressentimento, um medo repentino ou uma intuição
inexplicável. Uma pessoa só é considerada médium quando manifesta esse fenômeno
de forma ostensiva, ou seja, quando as comunicações podem ser percebidas de
forma clara. Ela pode sentir, ver, ouvir, falar ou ainda psicografar textos
ditados pelos espíritos. Não há idade determinada para o início das ocorrências
e elas podem rolar mesmo se a pessoa não acreditar na interação com os mortos.
Lá no
começo.
A crença na
comunicação com espíritos existiu em quase todas as civilizações. Xamãs
invocavam curandeiros, profetas recebiam mensagens divinas e pitonisas viam o
futuro. Mas o fenômeno só foi estudado com mais rigor científico após o
professor francês Allan Kardec (1804-1869) codificar a doutrina espírita e
conceitos como imortalidade da alma e evolução por meio de várias reencarnações
Entre dois
mundos.
Ainda
segundo a doutrina, o processo reencarnatório só se encerra por volta dos 7
anos. Até lá, a criança está ligada tanto ao mundo espiritual quanto ao físico.
Por isso, é na infância que mais ocorrem casos de comunicação desse tipo. Isso
não significa que ela seja médium - o título só será confirmado no restante da
vida, se ela demonstrar essa capacidade de modo ostensivo
As primeiras
interações...
As
ocorrências tendem a intensificar-se logo que a criança aprende a falar. Visões
e audições são as manifestações mais comuns e podem ocorrer juntas. Na maioria
das vezes, o pequeno não tem medo algum e não entende por que seus pais também
não conseguem ver a presença que ele percebe. Ele não compreende o conceito de
morte e por isso encara a "companhia" com naturalidade
Fantasma
camarada.
Na infância,
as interações tendem a ser positivas. É comum, por exemplo, bebês rirem
sozinhos, olhando para o "nada". Em muitos casos, podem estar vendo
amigos de vidas passadas ou espíritos protetores. Também são recorrentes as
visitas de parentes falecidos ou de amiguinhos espirituais que assumem uma
fisionomia mais infantil
Recordações
inexplicáveis.
Em alguns
casos, o contato pode revelar lembranças pregressas: a criança reconhece gente
da encarnação anterior e até renega a atual família. Para Léon Denis, filósofo
francês e seguidor da doutrina espírita, a mediunidade também pode estar por
trás de prodígios precoces: casos de genialidade podem ser manifestados, mesmo
de forma inconsciente, pelo estímulo de espíritos
De tremer a
espinha.
"Assombrações"
(em especial, aquelas chamadas de "obsessões" pela doutrina) são mais
raras nessa fase da vida. Na maioria das vezes, são espíritos sofredores que
habitam o mesmo local que a criança. Mesmo que não desejem causar mal, podem
provocar medo. Há também os que querem assustá-la para punir alguém da família
por alguma dívida passada
Pais e a
mediunidade infantil.
MEDIUNIDADE...
OU IMAGINAÇÃO?
Como
identificar se um "amiguinho invisível" pode ser mesmo um contato espiritual
De olho nos
pequenos.
Segundo
estatísticas, três em cada dez crianças apresentam "amigos
invisíveis" - algo encarado com naturalidade pela psicologia. Então, como
diferi-los de um evento mediúnico? Para a vice-presidente da Federação Espírita
Brasileira, Marta Antunes, não há uma receita exata: o fundamental é que os
pais observem o comportamento dos filhos e conheçam bem sua personalidade e
hábitos
Tudo bem.
Segundo a
autora espírita e especialista em terapia comunitária Walkiria Kaminski, as crianças
que se comunicam com espíritos costumam ser saudáveis, sem sinais de apatia ou
depressão. Interessam-se por brinquedos ou jogos tanto quanto as outras. Elas
encaram as visões com naturalidade, sem espanto - e ficam até intrigadas com o
fato de os pais não serem capazes de vê-las
Tudo mal.
E se as
visões forem sinal de uma doença psiquiátrica? Pode acontecer, mas é raro:
esquizofrenia só acomete uma em cada 10 mil crianças. E traz indícios mais
fáceis de detectar, como desejo por isolamento, depressão, mudanças repentinas
de humor... Além disso, as "vozes" ouvidas costumam ser ameaçadoras e
o pequenino tem dificuldade de relatar o fenômeno para os adultos
Clube dos
solitários.
A imaginação
é uma característica comum nessa fase e pode servir como suporte a quem tem
pouco ou nenhum contato com amiguinhos da sua idade. A construção fantasiosa
também pode rolar quando os filhos não recebem a devida atenção dos pais e
passam a maior parte do tempo sozinhos. Assim, as companhias de mentirinha
servem para evitar a solidão
MANUAL PARA
PAIS PREOCUPADOS.
A principal
dica é abordar o fenômeno com tranquilidade - ele passa com o tempo.
1. Para a
educadora espírita Martha Guimarães, os pais devem encarar os relatos com
naturalidade. Se eles entram na "brincadeira", a criança fica à
vontade para dar mais dados sobre o "amigo invisível": nome,
aparência, idade... Em alguns casos, ela pode até identificar nos álbuns da
família a imagem do espírito como sendo a de um parente já falecido.
2. Evite
incutir medo. Ele tem péssimas consequências. Aludir a figuras como
"monstros" ou "bicho-papão" pode deixar o(a) garoto(a) com
pavor de ficar sozinho(a) ou no escuro. Também se deve evitar dizer que
"isso é coisa do capeta" ou que as vozes são "do demônio".
Além de apavorar a criança, ela poderá achar que está sendo possuída.
3. É
importante achar um equilíbrio. Se os adultos acusarem a criança de mentir, ela
pode começar um processo de negação da mediunidade e acreditar que é louca. Por
outro lado, eles também não devem incentivar demais a habilidade, para que ela
não perca interesse pelo mundo físico ou se sinta forçada a forjar relatos de
contatos só para agradá-los.
4. Para quem
estiver aberto à ideia, uma sugestão é buscar apoio num centro espírita. A
maioria desenvolve trabalhos voltados às crianças que explicam, em linguagem
apropriada, a definição de conceitos como mediunidade e vida após a morte. Além
disso, a aplicação de passes e orações já é o suficiente para diminuir a
frequência do fenômeno.
5. Outra
opção é recorrer a um terapeuta profissional. A psicologia nega a existência da
mediunidade, mas considera a criação de amigos imaginários natural e positiva.
A criança tende a abandonar esse recurso de socialização quando envelhece -
geralmente, na mesma época em que a doutrina espírita acredita que o processo
reencarnatório se conclui, aos 7 anos.
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