Embora quase
tudo que faz a gente perder o sono gire em torno de problemas concretos, nas
fronteiras da vida, cuidando de pessoas que estão corajosamente enfrentando a
realidade de seu fim de vida, ainda não ouvi ninguém dizer que a vida valeu a
pena porque nunca foi demitido, nunca levou um fora ou nunca perdeu a
paciência.
Ainda não
ouvi ninguém se despedir da vida dizendo: “Morro feliz porque sempre tive
bom-senso”. Nem dizer que está morrendo em paz porque tem casa própria ou
porque teve um carro zero todo ano. As viagens mais importantes que fizeram
foram aquelas em que puderam encontrar a si mesmos e à sua própria força e
coragem, seja escalando altas montanhas ou numa volta no corredor do hospital
onde puderam experimentar a vitória de caminhar sobre os próprios pés.
Por
enquanto, ninguém me confidenciou que estava pronto para morrer porque sempre
teve dinheiro guardado para uma eventualidade ou porque soube como esconder
seus sentimentos. Aqueles que adoram repetir as palavras “nunca vou passar por
isso” ou “sempre serei assim” devem se preparar para uma boa lição lá na frente
da vida, quase na última curva da existência. As conversas sobre desejos finais
giram em torno de três prioridades:
Ter feito
diferença no mundo, ter deixado um legado
Ter tido a
possibilidade de expressar sentimentos: amar, ser amado, perdoar e ser perdoado
Não ser
esquecido.
No final, o
que conta é o que não se conta. Recomendaria aos mais atentos que não deixem
essas prioridades para o último ano, o último mês ou a última hora. Sempre
acreditamos que pode dar tempo lá na frente, mas se der tempo de ler essas
linhas, faça acontecer essas maravilhas verdadeiras da vida hoje mesmo.
Autor: Ana
Claudia Arantes, Geriatra do Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário