“Há
tendências viciosas que são evidentemente próprias do Espírito, porque se apegam
mais ao moral do que ao físico; outras parecem antes dependentes do organismo,
e, por esse motivo, menos responsáveis são julgados os que as possuem:
consideram-se como tais as disposições à cólera, à preguiça, à sensualidade
etc.
Hoje está
plenamente reconhecido pelos filósofos espiritualistas que os órgãos cerebrais
correspondentes a diversas aptidões devem o seu desenvolvimento à atividade do
Espírito. Assim, esse desenvolvimento é um efeito, e não uma causa.
Se a
atividade do Espírito reage sobre o cérebro, deve também reagir sobre as outras
partes do organismo.
O Espírito
é, deste modo, o artista do próprio corpo, por ele talhado, por assim dizer, à
feição das suas necessidades e à manifestação das suas tendências.
Desta forma
a perfeição corporal das raças adiantadas deixa de ser produto de criações
distintas para ser o resultado do trabalho espiritual, que aperfeiçoa o
invólucro material à medida que as faculdades aumentam.
Por uma
consequência natural deste princípio, as disposições morais do Espírito devem
modificar as qualidades do sangue, dar-lhe maior ou menor atividade, provocar
uma secreção mais ou menos abundante de bílis ou de quaisquer outros fluidos.
…Compreende-se
que um Espírito irascível deve encaminhar-se para estimular um temperamento
bilioso, do que resulta não ser um homem colérico por bilioso, mas bilioso por
colérico. O mesmo se dá em relação a todas as outras disposições instintivas:
um Espírito indolente e fraco deixará o organismo em estado de atonia relativo
ao seu caráter, ao passo que, ativo e enérgico, dará ao sangue como aos nervos
qualidades perfeitamente opostas. A ação do Espírito sobre o físico é tão
evidente que não raro vemos graves desordens orgânicas sobrevirem a violentas
comoções morais.
Pode
admitir-se, por conseguinte, ao menos em parte, que o temperamento é
determinado pela natureza do Espírito, que é causa, e não efeito.
E nós
dizemos em parte, porque há casos em que o físico influi evidentemente sobre o
moral, tais como quando um estado mórbido ou anormal é determinado por causa
externa, acidental, independente do Espírito, como sejam a temperatura, o
clima, os defeitos físicos congênitos, uma doença passageira etc.
O moral do
Espírito pode, nesses casos, ser afetado em suas manifestações pelo estado
patológico, sem que a sua natureza intrínseca seja modificada. Escusar-se de
seus erros por fraqueza da carne não passa de sofisma para escapar a
responsabilidades.
A carne só é
fraca porque o Espírito é fraco, o que inverte a questão, deixando àquele a
responsabilidade de todos os seus atos. A carne, destituída de pensamento e
vontade, não pode prevalecer jamais sobre o Espírito, que é o ser pensante e de
vontade própria.
O Espírito é
quem dá à carne as qualidades correspondentes ao seu instinto, tal como o
artista que imprime à obra material o cunho do seu gênio. Liberto dos instintos
da bestialidade, o Espírito elabora um corpo que não é mais um tirano de sua
aspiração, para espiritualidade do seu ser, e é quando o homem passa a comer
para viver e não mais vive para comer.
A
responsabilidade moral dos atos da vida fica, portanto, intacta, mas a razão
nos diz que as consequências dessa responsabilidade devem ser proporcionais ao
desenvolvimento intelectual do Espírito. Assim, quanto mais esclarecido for
este, menos desculpável se torna, uma vez que com a inteligência e o senso
moral nascem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto.
Esta lei
explica o insucesso da Medicina em certos casos. Desde que o temperamento é um
efeito, e não uma causa, todo o esforço para modificá-lo se nulifica ante as
disposições morais do Espírito, opondo-lhe uma resistência inconsciente que
neutraliza a ação terapêutica. Por conseguinte, sobre a causa primordial é que
se deve atuar. Dai, se puderdes, coragem ao poltrão, e vereis para logo
cessados os efeitos fisiológicos do medo. Isto prova ainda uma vez a
necessidade, para a arte de curar, de levar em conta a influência espiritual
sobre os organismos.”
Caro leitor
amigo, permitimo-nos, para nossas reflexões, transcrever acima parte do texto
escrito por Allan Kardec e inserido no livro O Céu e o Inferno, capítulo VII,
sobre a fraqueza do Espírito em relação ao seu corpo físico.
Pensemos
nisso.
Antônio
Carlos Navarro-Rede Amigo Espírita
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