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domingo, 24 de setembro de 2017

“O PAPA FRANCISCO E O ESPIRITISMO”

“O homem que em certa posição possa se vangloriar, se achar indispensável ou insubstituível, não tem a consciência que todos necessitam uns dos outros.
Desde o início do seu papado, Francisco mostrou ser um homem muito espiritualizado, bem mais que os seus antecessores. Simples, utiliza de palavras fortes que chegam com impacto em nossa alma. Deixou a contemplação externa para a interiorização, com o objetivo de dar valor ao homem pelo seu íntimo, pela sua alma. Demonstrou seu amor pelo próximo e um carinho especial às crianças. Mostrou-me muito mais com palavras que encontro constantemente no estudo da Doutrina Espírita, como se quisesse repassar os ensinamentos de Jesus de um modo mais claro, como fez Kardec na sua codificação.
Em 22 de dezembro passado, na mensagem de Natal, o Papa Francisco surpreendeu a todos quando pediu aos cardeais para que "façam um exame de consciência". Provocou-lhes, como diz a reportagem'1', um certo desconcerto até mesmo nos altos funcionários da Santa Sé. Citou, em forma de comparação, inúmeras patologias que acometem o seu meio religioso.
Referiu o Papa a cada um dos seus súditos para não "sentir-se imortal e insubstituível, sem defeitos, privado de autocrítica, que não se atualiza e nem tenta melhorar". Para deixar bem claro estas suas palavras sugeriu: "é preciso visitar os cemitérios para ver os nomes de tantas pessoas que se consideravam imunes e indispensáveis".
Num certo momento da sua palestra, o líder religioso usou expressões fortes como "terrorismo falatório", "rivalidades pela glória", "exibicionismo mundano" e "excesso de atividade", quando aconselhou o respeito às férias e dedicar momentos de descanso com a família. Prosseguiu pedindo aos seus cardeais que façam um exame de consciência ante o que chamou, aliás numa feliz comparação, de "Alzheimer espiritual", atribuindo este mal a "uma petrificação mental e espiritual", seguida de "excesso de planejamento e funcionalismo", "má coordenação". Segundo ele, "uma grave doença do esquecimento do fervor da fé inicial". Associada a essa doença o Pontífice referiu-se a uma outra: a "esquizofrenia existencial - quem esquece que está a serviço das pessoas, que dependem das suas próprias paixões, caprichos, manias e constroem a seu redor muros e costumes. Sanar esta grave enfermidade é urgente e indispensável, e, ainda, deixar de só pensar no que pode obter e não no que pode oferecer". Outras patologias citadas pelo Papa foram "a doença da indiferença para com os demais" e "da cara fúnebre - já que o religioso deve ser uma pessoa amável, serena e entusiasmada".
Pontífice orientou a todos que ' cura é fruto da tomada de consciência da doença". Por último pedi aos bispos e cardeais "que permitam que o Espírito Santo inspire as suas ações, ao invés de confia apenas em suas capacidades intelectuais". Dias depois, num outro pronunciamento disse que a "liberdade religiosa é um fator inalienável do homem".
Entendi que esses pedidos não foram apenas para os cardeais, bispos e sacerdotes católicos, mas indireta ou diretamente aos lideres políticos e religiosos e também ; todos os homens do planeta.
O Papa teve a coragem de expor suas ideias e palavras e o mérito erra afrontar perigos e supostos sarcasmos, sem temer confessá-las claramente, mesmo sabendo que não sãc do agrado de todo o mundo. Não se pode esquecer que Jesus também exteriorizou esta coragem em toda a sua vida.
Com todos os adjetivos utilizados pelo Papa em seu discurso, tudo me fez lembrar os ensinamentos de Kardec, que com a sua lógica científica esclarecedora, se aprofunda mais nos embasamentos. Em um deles ensina que "todos os homens serão submetidos às mesmas leis da Natureza. Todos nascem com a mesma fraqueza, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Portanto, não deu a nenhum homem superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela morte. Diante dele, todos são iguais"'2'.
O Papa teve a coragem de expor suas ideias e palavras e o mérito em afrontar perigos e supostos sarcasmos.
0 homem que em certa posição possa se vangloriar, se achar indispensável ou insubstituível, não tem a consciência que todos necessitam uns dos outros. 0 desejo de possuir só para si para obter satisfações pessoais é egoísmo. Kardec(2) esclarece que "o meio mais prático e mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir aos arrastamentos do mal é conhecer-se a si mesmo (autocrítica, autoanálise ou exame de consciência, como referiu o Papa), para que ocorra o progresso espiritual.
Em todos os contextos sociais, especialmente no religioso, muitos indivíduos são recrutados por palavras e diálogos pouco convincentes, quando não, melindrosos e ardilosos para que uma igreja (de qualquer corrente religiosa) consiga um maior número de adeptos ou fiéis e assim possam, cada vez mais, progredir materialmente. Kardec'3' apresenta uma mensagem clara sobre este ponto: "não violenteis nenhuma consciência; não forceis ninguém a deixar a sua crença para adotar outra; não lançais anátema sobre aqueles que não pensam como vós; acolhei aqueles que vêm ameaçador e constrangedor. Isto ocorre com quase todas as pessoas nos diferentes contextos da vida. Quanto ao exibicionismo mundano e à rivalidade, de modo velado, quis o Papa referir-se aos últimos escândalos de corrupção da igreja, mas não é só na sua igreja que esses escândalos aparecem; pode-se afirmar que em quase todas, inclusive em muitos centros espíritas.
Quanto ao excesso de atividade citada pelo Papa, Kardec(2) também esclarece que "o meio mais prático e mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir aos arrastamentos do mal é conhecer-se a si mesmo"(2) (autocrítica, autoanálise ou exame de consciência, como referiu o Papa), para que ocorra o progresso espiritual.
Em todos os contextos sociais, especialmente no religioso, muitos indivíduos são recrutados por palavras e diálogos pouco convinha vós e deixai em paz os que vos repelem. Lembra-vos das palavras de Cristo; outrora o céu se tomava pela violência, hoje pela brandura".
Ficou claro nas palavras do Pontífice que está ocorrendo entre os membros da sua igreja a rivalidade, numa competição desenfreada para superar o outro com objetivo de declarar-se, ilusoriamente, melhor, demonstrando egocentrismo, muitas vezes, através do falatório ensina que o repouso depois do trabalho é uma necessidade e está dentro da lei natural. Serve para reparar as forças do corpo e deixar a inteligência com um pouco mais de liberdade para se elevar acima da matéria.
Por petrificação mental e espiritual podemos entender tornar-se duro, insensível e desumano. Referiu o Papa a má coordenação pelo excesso de funcionalismo e planejamento da sua igreja, quando leva--se em conta, prioritariamente, o bom andamento da igreja em detrimento ao acolhimento fraterno dos indivíduos. Repetimos que isto não ocorre só na igreja católica.
Quando referiu o Papa sobre a esquizofrenia existencial, associou-a com a terrível psicose, na qual o enfermo constrói um mundo só seu, muitas vezes hermeticamente fechado, rechaçando o convívio com o próximo e, não raro, cuidam muito bem do seus caprichos e costumes. Relembrei muito bem de 0 Livro dos Espíritos, quando Kardec(2) orienta que o homem é um ser social e necessita do convívio para evoluir através das diferenças. Mesmo aquele que se isola para a contemplação e meditação está se esquecendo dessa lei da sociedade. Esclarece, ainda, sobre os homens que se abandonam à vida contemplativa, não fazendo nenhum mal e não pensando senão em Deus. Isto não tem nenhum mérito perante o Criador, porque se não fazem o mal, não fazem o bem e são inúteis. Aliás, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que se pense nele, mas não quer que se pense só nele, visto que deu ao homem deveres a cumprir sobre a Terra. O homem deve progredir e sozinho não pode, porque não tem todas as faculdades, por isto necessita do contato com outros homens. O homem que vive em reclusão para fugir do contato com o mundo é portador de um duplo egoísmo. O voto do silêncio e o do isolamento priva o homem das relações sociais que podem lhe fornecer as ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso.
Quanto ao esquecimento do fervor da fé inicial, entendi que é a fé que Jesus recomendava aos seus filhos pelo Pai, sobre todas as coisas. Talvez, tudo o que o Papa quis com o seu discurso seja a renovação do homem pela sua fé. Para entender bem sobre a fé de uma maneira clara, Kardec(3) nos ensina: "do ponto de vista religioso, a fé é a crença nos dogmas particulares que constituem as diferentes religiões; todas as religiões têm os seus artigos de fé. Sob este aspecto, a fé pode ser cega ou raciocinada. A fé cega, não examinando nada, aceita sem controle o falso como verdadeiro e se choca contra a evidência e a razão. A fé que tem por base a verdade é a única segura do futuro, porque não tem nada a temer do progresso, já o que é verdadeiro na obscuridade o é igualmente em plena luz. Preconizar a fé cega é confessar impotência em demonstrar que se tem razão. Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade".
Alerta, ainda, que não se deve confundir a fé com a presunção, com os preconceitos da rotina, com o interesse material, com o egoísmo, com as paixões orgulhosas e muito mais. Para Kardec13' a fé sincera é sempre calma e se alia à humildade.
Senti que é a fé que o Papa Francisco demonstra ter e querer que todos os que o rodeiam a tenham, por isto pediu-lhes um exame de consciência.
Também aqui o recado foi para todos os orientadores religiosos, muitos dos quais são portadores dessa doença, no dizer do Papa, que pouco se importam com o próximo como deveriam. Muitos ministram suas palavras com pouco entusiasmo, com caras fechadas, de modo antipático, querendo acabar logo o seu pronunciamento. Esquecem da candura de Jesus quando falava aos seus seguidores, esquecem da coisa mais importante que é mensagem feita com amor. Como é notório, isto acontece em quase todas ou em todas as correntes religiosas.
O Sumo-pontífice disse que a cura das enfermidades é a tomada de consciência da doença. Isto é concordante com os ensinamentos da Doutrina Espírita, quando esclarece que a maioria das enfermidades tem a causa no espírito. O autoconhecimento é a chave para a melhora ou cura das doenças e, consequentemente, para o progresso.
De forma consistente e incisiva propôs aos bispos e aos cardeais e, indiretamente, a todos os seres humanos, que devem dar atenção aos seus próprios Espíritos e ao Espírito Santo (bons espíritos) que os acompanham e os inspiram em todas as ações da vida, para não acharem que tudo é obra somente da capacidade intelectiva.
O Papa deixou claro que quer mudanças, se possível, profundas; por isto pediu a renovação aos seus discípulos, e porque não, a todos os homens. Isto é reforma íntima que é recomendada, insistentemente pela Doutrina Espírita que diz ser urgente, intransferível, de cada ser, nas bases traçadas pelo Evangelho de Jesus.
Creio que o Pontífice, como um espírito evoluído, orientado por bons e evoluídos espíritos (Espírito Santo, como refere) já deslumbrou um futuro com o conjunto harmonioso na obra do Criador, onde a solidariedade liga todos os homens e todos os seres de todos os mundos. Isto é mais um ensinamento de Jesus!
Fonte: A Casa do Espiritismo
1. Jornal Cruzeiro do Sul. "Papa Francisco diz que a Cúria sofre de Alzheímer espiritual" - Sorocaba/ SP, 23/12/2014, p. A9.
2. KARDEC, Allan. 0 Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. Rio de Janeiro: FEB, 1985,63-ed., questões 682,770 a 772, 803 e 919.
3. . O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. Salvador Gentile. Araras/SP: IDE.1985, 47a ed., p. 244 a 246 e 297.


O autor é médico psiquiatra e participa de atividade-espíritas em Sorocaba-SP. - José Luiz Condotta | jlcondotta@splicenet.com.br - RIE DE FEVEREIRO DE 2015

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