“A dor de um minuto nos desperta para
a felicidade sem limites como a ventania de um instante limpa a atmosfera por
muitos dias. (J. Herculano Pires)
A dor e a morte são experiências que
atravessam os séculos e atingem os seres que constituem a obra da criação.
Logo, cabe perguntar: a árvore quando sofre a privação de não dar frutos
estaria expiando erros de outras vidas? E os animais? Quando sofrem e morrem,
estariam pagando por erros cometidos no pretérito?
A Doutrina dos Espíritos, codificada
por Allan Kardec, representa uma revolução copernicana no conhecimento, pois
trata temas antigos sob um novo prisma e faz uso da razão e da experiência, de
forma equilibrada, oferecendo a partir de perguntas inteligentes informes
espirituais condizentes com os anseios de esclarecimento da criatura humana.
Segundo esta visão de mundo, o ser
está inserido num projeto evolutivo-educativo chamado vida na busca de
autoconstruir-se e de influenciar naturalmente, a partir do contato
interexistencial [1] , as outras pessoas. A Evolução se dá nos três reinos
buscando levar o princípio inteligente (o espírito ao longo da sua formação) a
atingir a perfeição relativa que lhe está destinada.
Como dizia o pensador Léon Denis a
respeito do ser: “dormita na matéria bruta, acorda na matéria orgânica, adquire
atividade, se expande e se eleva no espírito.” (DENIS, 2008: 82).
O ser humano, de acordo com a
Doutrina Espírita, por possuir liberdade de agir, (o chamado livre-arbítrio) e
a capacidade reflexiva, pode, se assim desejar, compreender as experiências da
dor e da morte de forma mais madura. Sobre a dor, Denis também se expressou: “é
uma lei de equilíbrio e educação”. (DENIS, 2008: 520). Portanto, trata-se de
uma experiência que representa, antes de mais nada, uma mola propulsora do
processo evolutivo que deve ser compreendida para ser melhor vivida. Ela
impulsiona o ser transformando em ato as potências da alma. Ela pode ser a
reviravolta do ser humano que é divino, que clama por liberdade, mas não quer
assumir a responsabilidade evolutiva que lhe cabe.
Já a morte, trata-se de uma
experiência intransferível e insubstituível, pela qual todos passaremos um dia.
Não devemos antecipar nem descuidar desta, a mais importante das viagens a se
realizar. Jesus, pedagogo da humanidade, nos deu seu exemplo de serenidade
diante da morte devido à tranquilidade da sua consciência no momento do
passamento. Tinha exemplificado a ideia do Bem com magnitude, pois foi o modelo
maior de coerência entre teoria e prática, entre saber e sabedoria que foi
legado à humanidade. Daí ter reaparecido, senhor de si mesmo, com seu corpo
espiritual, após a experiência física, atestando a imortalidade da alma e
deflagrando nos primeiros cristãos a coragem moral até então embotada pelos
poderes constituídos.
Conclui-se diante da dor e da morte
que, embora ligadas à lei de ação e reação, são molas propulsoras do progresso,
pois podem tanto expiar o passado como corresponder às necessidades evolutivas
das sociedades. São sempre agentes (na expiação e na provação) que estimulam o
amadurecimento dos seres. Representam a bondade divina, ou seja, o elã
evolutivo convidando-nos ao recobramento que somos seres imortais revestidos da
experiência física para realizarmos a maior vitória que existe: a sobre nós
mesmos...
Correio Espírita. Por André Parente
www.correioespirita.org.br/
BIBLIOGRAFIA:
DENIS, Léon. O Problema do Ser, do
Destino e da Dor. Rio de Janeiro, FEB, 2008.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
São Paulo, Lake, 2004.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o
Espiritismo. São Paulo, Lake, 2004.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. São
Paulo, Lake, 2004.
PIRES, J. Herculano. O Mistério do
Ser ante a Dor e a Morte. São Paulo, Paidéia, 1996.
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