Um dos
argumentos mais usados por descrentes da doutrina espírita e cristã para
"desmoralizar" o amor fraterno e infinito de Deus é citar ele como
culpado das catástrofes naturais ou acidentais. Então, como o Espiritismo
consegue explicar esses acontecimentos (como o que aconteceu em São Francisco
de Paula, na Serra gaúcha)?
No Livro dos
Espíritos, Kardec indaga sobre as mesmas questões com os espíritos que o
ajudaram a codificar a Doutrina.
737. Com que
fim fere Deus a Humanidade por meio de flagelos destruidores?
“Para
fazê-la progredir mais depressa. Já não dissemos ser a destruição uma
necessidade para a regeneração moral dos Espíritos, que, em cada nova
existência, sobem um degrau na escala do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja
o objetivo, para que os resultados possam ser apreciados. Somente do vosso
ponto de vista pessoal os apreciais; daí vem que os qualificais de flagelos,
por efeito do prejuízo que vos causam. Essas subversões, porém, são
frequentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor
ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos
séculos.”
740. Não
serão os flagelos, igualmente, provas morais para o homem, por porem-no a
braços com as mais aflitivas necessidades?
“Os flagelos
são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua inteligência, de
demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus e que lhe oferecem
ensejo de manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor
ao próximo, se o não domina o egoísmo.”
No blog
"Guardas Municipais de Recife" achei um texto que se refere à
catástrofe ocorrida no Haiti em Janeiro de 2010, mas que pode ser lido por quem
procura respostas para o incidente no Japão pois possui o mesmo significado.
Para todos
os fenômenos da vida humana, há sempre uma razão de ser. No dicionário
Espírita, não deve constar a palavra “acaso”, ainda que as situações se nos
afigurem insuportáveis. A tragédia do Haiti nos expõe, de maneira evidente, um
episódio de resgate coletivo. Qual o significado dos milhares de seres que
foram esmagados pelo terremoto? Catástrofe, cujas dimensões deixaram o mundo
inteiro consternado? Para as tragédias coletivas, a Doutrina Espírita tem as
explicações prováveis, considerando que, nos Estatutos de Deus, não há espaço
para injustiça.
Segundo os
Espíritos, “se há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros há,
também, aos quais, pelo menos na aparência, ele é completamente estranho e que
parecem atingi-lo como por fatalidade. Tal, por exemplo, os flagelos naturais.”
(1) Pela reencarnação e pela destinação da Terra - como mundo expiatório - são
compreensíveis as anomalias que o planeta apresenta quanto à distribuição da
ventura e da desventura neste planeta. Aliás, anomalia só existe na aparência,
quando considerada, tão-só, do ponto de vista da vida presente. “Aquele, pois,
que muito sofre deve reconhecer que muito tinha a expiar e deve regozijar-se à
ideia da sua próxima cura. Dele depende, pela resignação, tornar proveitoso o
seu sofrimento e não lhe estragar o fruto com as suas impaciências, visto que,
do contrário, terá de recomeçar.”
Em verdade,
"as grandes provas são quase sempre um indício de um fim de sofrimento e
de aperfeiçoamento do Espírito, desde que sejam aceitas por amor a Deus”.
Os flagelos
destruidores ocorrem com o fim de fazer o homem avançar mais depressa. A
destruição é necessária para a regeneração moral dos Espíritos, que adquirem,
em cada nova existência, um novo grau de perfeição. "Esses transtornos
são, frequentemente, necessários para fazerem com que as coisas cheguem, mais
prontamente, a uma ordem melhor, realizando-se em alguns anos o que
necessitaria de muitos séculos.” Dessa maneira, esses flagelos destruidores têm
utilidade do ponto de vista físico, malgrado os males que ocasionam, "pois
eles modificam, algumas vezes, o estado de uma região; mas o bem, que deles
resulta, só é, geralmente, sentido pelas gerações futuras.”
Antes de
reencarnarmos, sob o peso de débitos coletivos, muitas vezes, somos informados,
no além-túmulo, dos riscos a que estamos sujeitos, das formas pelas quais
podemos quitar a dívida, porém, o fato, por si só, não é determinístico, até,
porque, depende de circunstâncias várias em nossas vidas a sua consumação, uma
vez que a Lei de causa e efeito admite flexibilidade, quando o amor rege a vida
e "o amor cobre uma multidão de pecados.”
Aquele que
se compraz na caminhada pelos atalhos do mal, a própria lei se incumbirá de
trazê-lo de retorno às vias do bem. O passado, muitas vezes, determina o
presente que, por sua vez, determina o futuro. "Quem com ferro fere, com
ferro será ferido" - disse o Mestre. Porém, cabe a ressalva de que nem
todo sofrimento é expiação. No item 9, Cap. V, de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, Allan Kardec assinala: "Não se deve crer, entretanto, que
todo sofrimento porque se passa neste mundo seja, necessariamente, o indício de
uma determinada falta: trata-se, frequentemente, de simples provas escolhidas
pelo Espírito para sua purificação, para acelerar o seu adiantamento."
Texto por
Jorge Hessen- Rede Amigo Espírita