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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

"BEBÊS DEFICIENTES."

Conhece-os.? 
Tenho por eles uma admiração sem limites. Considero-os Espíritos fortes que escolheram - e se não escolheram, aceitaram - voltar à Terra em situações atípicas. Alegro-me pela oportunidade de falar e escrever sobre eles, aos quais devo as mensagens mais importantes que recebi em minha vida, ditas sem palavras. 
Ninguém nasce mal recebido. Ninguém oferece mais amor. Lembro-me da referência de Ken Wilber sobre os três olhos: o olho da mente e o olho da alma. Essas crianças incompletas nos olham com o terceiro olho e abrem a nossa alma para vermos o esplendor da vida, paradoxalmente mais evidente, diante das reencarnações difíceis. 
A vida na Terra pode ser comparada a uma competição. Alguns têm capacidade para nadar cinquenta metros em piscina estreita e obtém uma vitória fácil. Outros se inscrevem para atravessar a nado o canal da Mancha e os obstáculos são muitos diferentes. A vitória também. 
Todos os dias vejo os pequeninos, nascidos portadores de paralisias cerebrais ou de síndromes incapacitantes, microcefalias, chegarem para a reabilitação, com a absurda alegria de quem renova diariamente o treino da competição. Para eles, é difícil satisfazer as mais elementares necessidades da vida, difícil respirar, comer, falar, mover-se, expressar sentimentos, entender e ser entendido. Contudo, eles atravessam o canal da Mancha. 
Possivelmente são Espíritos corajosos, que antes da reencarnação, aceitaram o desafio para acelerar a sua evolução. 
Ilustre dama, a senhora Maria  Hecilda  Salgado, fundadora do Lar Escola São Francisco, uma das mais conceituadas instituições de São Paulo para crianças paralíticas, convidada a falar no encerramento de congresso internacional de reabilitação assim se expressou: '' À noite, terminada as tarefas do dia, quando me preparo para deitar ,tiro os meus sapatos. Então me lembro dos meus meninos do Lar Escola; eles tiram suas pernas. Comparo-me a eles e me sinto pequena diante da força, da coragem e do amor pela vida que eles demonstram''. 
Muitos são os que dizem apressadamente: são bebês em tremenda expiação! Além da arbitrariedade e rigidez do julgamento, a frase está mais ligada a Moisés e ao código de Hamurabi do que a Jesus e a Kardec. 
A presença, o comportamento e a maneira com que as centenas de bebês deficientes, que conhecemos, se comportam, nos levam a refletir, com mais maturidade sobre a palavra ''expiação'‘, dentro das ''vicissitudes das existências corpóreas’ ‘segundo vocábulos contidos na magistral questão 132 de O Livro dos Espíritos. Será a ''expiação'' realmente um castigo, uma punição, quase uma vingança, enquadrada no ''olho por olho, dente por dente'' da lei antiga? 
Sem dúvida, a palavra expiação se relaciona à Justiça e o conceito de justiça é a medida da interpretação. Pode-se compreendê-la na sua conotação mais primitiva ou na profundidade de sua essência na qual ela mostra envolvida no Amor. Não era fácil conciliar justiça com amor antes da mensagem cristã e, sem dúvida, ainda hoje a dificuldade persiste... 
Até nos parece que as palavras evangélicas ''Não vim destruir a lei ,mas cumpri-la'', seguida de ilustrações comparativas entre o que diziam e o que Mestre agora ensinava representam o ponto básico da novidade cristã em nível de Justiça. Ao mesmo tempo, o conceito de justiça parece ser também a ponte que liga a mensagem do Nazareno ao Espiritismo, previsto para o futuro. 
A palavra é a vestimenta da ideia. Quando a ideia  tem potência a dinâmica de uma verdade progressiva, a palavra que a veste precisa ser repensada a cada etapa atingida pela mente humana. 
Pensamos que a justiça, amor, caridade, expiação...estão inclusos nesse tipo de palavras. 
Certa vez ,em reunião informal ,ouvimos interessante observação do professor Herculano Pires sobre a grafia e a oralidade da palavra expiação. Há nela dois sentidos, conforme dicionário. Expiação, com x, significa punir ,resgatar...mas  expiação  com s vem do verbo espiar ,olhar atentamente com um fim determinado, enxergar o caminho ao redor ;em abrangência ,aprender durante o caminho espiado, vivido, conscientizado, valorizado. 
Pensamos que os bebês deficientes, possivelmente se conscientizaram antes da reencarnação, de suas necessidades interiores e aceitaram o desafio de receberem corpos atípicos para equilibrar ou acelerar o ritmo evolutivo deles  mesmos de seus familiares e, talvez ,da sociedade humana.

Nancy Puhlmann Di Girolamo é dirigente da Instituição Beneficente Nosso Lar e editora do Jornal Terra Azul, em São Paulo .Enfermeira, jornalista e escritora ,é autora do best-seller ''O Castelo das Aves Feridas'', entre outros .Atua no movimento espírita de São Paulo. E-mail:

Nancy Puhlmann Di Girolamo

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