De modo geral, a moral espírita não é
dogmática em suas recomendações, porque reconhece no ser humano a necessidade
de liberdade de ação para a aprendizagem evolutiva. Isto é tanto mais válido no
que se refere à vida afetiva e sexual de cada um. Esse é um setor onde cada
Espírito tem inteira jurisdição de si mesmo e ninguém pode ou deve fazer
imposições. Mas dentro do princípio monogâmico, que é um princípio claramente
expresso na Doutrina Espírita, poderíamos tirar algumas orientações gerais de
conduta.
Que cada um reflita por si mesmo sobre sua validade e as aplique em sua
vida, na medida de sua adesão e capacidade moral.
O ideal de formar uma família deve
estar por trás de qualquer relacionamento. Se um indivíduo tem um namoro, um caso,
uma relação qualquer, sem que este objetivo o esteja orientando, já está
partindo do pressuposto de que será algo passageiro e sua postura não é
responsável, nem diante de si mesmo, nem diante do parceiro. A premissa de que
o namoro é coisa sem importância é que deveria ser evitada. Nada que envolva o
sentimento das pessoas pode ser considerado banal. Aquele que entra num
relacionamento com essa mentalidade está brincando com o outro ser humano, que
pode ficar seriamente envolvido. Espíritos responsáveis não brincam com os
sentimentos sagrados da vida e encaram seus próprios atos com gravidade e
reflexão.
Pode-se alegar que ninguém vai
começar um namoro já pensando em casamento e que justamente os namoros servem
para conhecer o outro, para observarmos se de fato temos afinidade real para a
constituição de uma família. O problema é sutil. Esta alegação é verdadeira,
mas é preciso esclarecê-la. Primeiro, que fique claro que o namoro é uma forma
de compromisso - pois todo envolvimento afetivo pode implicar em lesão de
sentimento do outro e de nós mesmos - principalmente se for acompanhado de
relação sexual, como o é hoje, na maioria das vezes. Ora, com a liberdade e
convivência que existe hoje entre os dois sexos, é perfeitamente possível
conhecer alguém numa relação de amizade, até relativamente bem, antes do início
de qualquer compromisso mais profundo. Para se entrar, portanto, num
relacionamento, seria necessário já um certo conhecimento do outro, um
sentimento mais intenso e pelo menos uma séria possibilidade de que o namoro
possa se desdobrar numa relação mais estável.
Quanto mais cedo o adolescente
comece a namorar, maior a possibilidade de enganos e decepções. Acha-se, hoje
em dia, que quanto maior número de relacionamentos, mais experiente é o
indivíduo. É justamente o contrário: mais lúcido, mais maduro e mais elevado
espiritualmente se mostrará aquele que durante a vida toda se relacionar apenas
com aquela pessoa que lhe está destinada. Não há necessidade de ensaios para
aprender: já temos vastíssima experiência no assunto em centenas de
encarnações. O que devemos buscar agora é equilíbrio e responsabilidade e não
sensação e experimentação. Quanto mais a criatura esperar o momento certo e a
pessoa certa para namorar e depois se casar, mais facilmente alcançará uma vida
afetiva saudável e equilibrada e mais simples se tornará a realização da uma
família.
É premente e necessidade de outros
objetivos na vida que não apenas o de relacionar-se com o sexo oposto. Há
milhões de criaturas na Terra que centralizam todas as suas forças e
capacidades na busca da satisfação nesse setor. A excessiva concentração no
assunto, a fixação mental num só objetivo (ainda que seja no fundo o de casar)
é prejudicial à lucidez do Espírito e revela desequilíbrio. Nosso objetivo
maior na Terra é evoluir e, dentro dessa meta, temos várias tarefas a realizar
- uma delas pode ser a formação da família. Mas nosso ideal deve ser sempre
abrangente, deve se elevar e se alargar o máximo possível. Durante a
adolescência e a mocidade é que esses ideais se solidificam e será muito mais
fácil para alguém preservar seu potencial afetivo para a criatura certa, à sua
espera em algum ponto do destino, se estiver trabalhando e se desenvolvendo em
outros ideais. Muita gente estuda, trabalha, adquire uma profissão, pratica uma
religião, mas tudo de forma mecânica, pois sua preocupação central é
entregar-se às sensações do sexo ou a busca desesperada de satisfação afetiva.
Ao invés, quem se dedicar ao desenvolvimento do próprio Espírito, cultivando
sua inteligência e procurando a prática do Bem, terá maior facilidade de
controlar seus impulsos e não dispersar energias inutilmente.
A vida sexual não pode ser o ponto
central do namoro e depois do casamento. A afinidade espiritual, a amizade, a
admiração mútua, a troca de intensas vibrações afetivas, a identidade de ideais
e objetivos na vida - entre os quais o
de ter filhos e educá-los - o amor fiel e equilibrado, são estes os fatores
preponderantes de um relacionamento estável. A manifestação física do sexo é
consequência. Tanto isso é verdade que, com o avançar dos anos, o desejo carnal
pode esmaecer, mas o amor pode continuar mais vivo do que nunca. É, pois,
importante que desde o namoro dedique-se muito mais tempo e atenção para cuidar
desses fatores do que à sôfrega entrega aos desejos carnais. Antes dos corpos
se juntarem, é preciso que as almas se amem e se entendam. As manifestações da
carne são transitórias e instáveis, mas o amor é eterno.
Jovens, adolescente e adultos! Pensem
que desde o primeiro desabrochar de sonhos românticos, desde os primeiros
anseios de satisfação sexual e afetiva, podem estar juntos de vocês, invisíveis
e atentos, os Espíritos destinados a nascer como seus filhos! Não decepcionem suas esperanças, não traiam
compromissos assumidos no Plano Espiritual. Eles esperam que vocês se conduzam
com dignidade e responsabilidade diante do sexo, que se unam à alma que lhe
está destinada a ser mãe ou pai. Com que tristeza e vergonha verão se vocês se
entregarem a relacionamentos passageiros, a paixões desregradas; se ferirem
sentimentos alheios e se desviarem do caminho previsto! Procurem estar em
sintonia mental com eles, os Espíritos dos seus futuros filhos, para prepararem
dignamente a família que os deverá receber. Procurem a inspiração dos Espíritos
do Bem, buscando forças para vencer os arrastamentos das más tendências, das
paixões inferiores e dos discursos sofísticos do mundo, que justificam todos os
desregramentos com bonitas palavras que podem levar os incautos para o abismo!
A,luta é difícil - sabemos todos! Os impulsos sexuais muitas vezes nos
torturam, nos atormentam! E mais que de sexo, temos também sede de companhia,
de compreensão, de carinho! Então, queremos nos atirar às conquistas, queremos
forçar o destino, pensando encontrar aqui e ali a realização do nosso anseio
mais profundo! Olhamos todas as pessoas do sexo oposto com um interesse
exagerado! Pensamos encontrar satisfação em vários relacionamentos! Busquemos,
porém, o autocontrole e o equilíbrio. Através da prece, do estudo, do trabalho,
podemos sempre elevar nossos sentimentos e encontrar a lucidez para enxergar
para onde de fato deve nos levar nosso destino espiritual! O desejo sincero de
acertar e evoluir já é um primeiro passo. Se as fraquezas e as hesitações
próprias do ser humano já nos fizeram cair em armadilhas, já nos deixaram o
gosto amargo do remorso, tenhamos coragem para nos levantar, encarando nossas
imperfeições com naturalidade, mas também com o propósito firme de vencê-las.
Afinal, está nas mãos de todos nós a realização de um mundo melhor. E nesse
mundo regenerado e mais feliz, a família deve ser o esteio das nossas emoções
sublimadas. E para que a família brilhe em sua missão de educar os Espíritos, é
preciso que canalizemos a força do sexo para a sua construção e que elevemos o
nosso amor à altura dessa tarefa.
ADÃO ARAUJO
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