Milagres existem?
Algumas pessoas se chocam ao saber que, pela doutrina
espírita, milagres não existem. Vamos então analisar melhor tal ideia - tendo
em mente que existe uma grande diferença entre o inexplicado e o inexplicável
-, tomando a acepção moderna da palavra “milagre” (algo que contraria as leis
naturais).
Vejamos o versículo abaixo:
João, 14:12
"Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em
mim, esse também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que
estas..."
São tais palavras ditas pelo próprio Jesus Cristo!
Teríamos então a capacidade de fazer tudo o que ele fez!? Os
apóstolos chegaram a realizar alguns milagres.
A Igreja Católica, no processo de beatificação, requer a
comprovação de certo número de milagres. Bom, se os apóstolos os faziam e hoje
várias pessoas ainda os recebem, quer dizer que os milagres aconteceram e ainda
acontecem em certo número. Mas então porque falar que se trata de um milagre
algo que qualquer pessoa (atendendo ao pré-requisito citado no versículo acima)
tem a capacidade de realizar?
Hoje trens se movem sem existir contato algum entre ele e o
solo! Isso tempos atrás seria considerado um milagre. Afinal, como coisa tão
sólida e pesada poderia “flutuar”?
Uma vez que um fenômeno se repete consideravelmente,
voluntariamente ou não, pode-se dizer que existe aí uma lei (conjunto de
regras) que determinam a realização ou não de tal fenômeno, conhecendo-se ou
não tal lei.
Mas como Jesus sempre realizava tais "milagres"?
Porque ele tinha dentro de si amor e fé em sua completa
essência! Sua fé, aliás, não era um ACREDITAR, mas um SABER tudo o que era
possível se fazer através de Deus. Ele sabia o que era requerido para fazer as
curas e possuía tais pré-requisitos: fé e amor. Por isso os apóstolos por vezes
falharam. Eles não eram, claro, tão puros quanto Jesus Cristo, nem possuíam uma
fé livre totalmente de quaisquer dúvidas sobre sua capacidade.
Tais fenômenos não vêm contrariar a lei natural das coisas.
De uma ótica materialista, sim, os milagres existem, pois daí não sairão
respostas às coisas que tem a ver mais com o plano espiritual que com o plano
material. Não tiramos os méritos de Jesus ao não interpretar tais feitos como
milagres. Pelo contrário, dá-se ainda mais méritos a ele! Ele realizou tais
feitos através da fé, do amor e da superioridade moral que possuía em si mesmo.
Se os tivéssemos, também conseguiríamos! Não nos esqueçamos de que o amor é a
força maior do universo, uma vez que Deus, seu criador, é amor!
Mas resta ainda um último ponto: e Deus?
Seria Ele capaz de realizar um milagre?
Algo realmente sem nenhum nexo ou possível justificação,
realmente contrário às leis naturais?
Não queiramos aqui interpretar os pensamentos e ideias de
Deus, que são fruto de uma sabedoria infinita, mas tentemos pensar um pouco.
Deus criou o universo e tudo o que existe. Tal criação se dá
sob certas leis naturais, que vêm Dele, claro, e que, por isso, são imutáveis
(perfeitas).
Poderia Ele fazer alguma coisa que contrariaria uma lei
natural emanada Dele mesmo?
Sim, Ele pode qualquer coisa.
E apenas Ele - pois não há nada maior que Ele - poderia
fazer algo contrário a uma lei natural vinda Dele mesmo!
Mas, ao fazê-lo, não estaria aí uma afirmação de que tal lei
não era perfeita, pois fora derrogada? Ou não, Ele faria isso apenas para nos
mostrar que pode e consegue?
O que dizer-se-ia de um sábio mecânico que, para provar sua
habilidade, desmantelasse um relógio construído pelas suas mãos, obra prima de
ciência, a fim de demonstrar que pode desmanchar o que fizera? Seu saber, pelo
contrário, não ressalta muito mais da regularidade e precisão do movimento de
sua obra?
Sabe-se, pelo estudo da Bíblia, que até os maus teriam a capacidade
de realizar milagres. Sinais que confundiriam os crentes menos atentos em sua
fé. Se um espírito mau pode fazer, por si próprio, algo que vem a derrogar uma
lei natural de Deus, isso o faz maior que Ele, e Deus não mais possuiria a
onipotência.
Por outro lado, se tal espírito conseguisse realizar esse
feito por Deus ter lhe delegado pessoalmente tal poder, para mais facilmente
induzir os homens ao mal, faltaria a Ele a soberana bondade. Em ambos os casos,
tem-se a negação de um atributo sem o qual Deus não seria Deus.
Não é o sobrenatural que é necessário às religiões, mas sim
o princípio espiritual, confundido erradamente com o maravilhoso, e sem o qual
não há religião possível. O Espiritismo considera a religião cristã de um ponto
de vista mais elevado; dá-lhe uma base mais sólida do que os milagres: as leis
imutáveis de Deus, que regem tanto o princípio material quanto o espiritual;
esta base desafia o tempo e a ciência, porque ambos virão sancioná-la. Se há
fatos que não compreendemos, é porque nos faltam ainda os conhecimentos
necessários.
Quer se dar ao povo, aos ignorantes e aos pobres de espírito
uma ideia do poder de Deus? É necessário mostrar-lhes a sabedoria infinita que
preside a tudo, no admirável organismo de tudo o que vive; é necessário
mostrar-lhes a sua bondade na sua solicitude por todas as criaturas, tão
ínfimas que sejam; a sua previdência na razão de ser de cada coisa, da qual
nenhuma é inútil; do bem que sai sempre do mal aparente e momentâneo.
Aonde está o maior poder: no mover-se uma montanha, ou na
criação completa de um planeta? Na cura de um câncer, ou na criação do infinito
universo, com todas as suas estrelas, planetas e galáxias?
Se tomarmos a palavra milagre em sua acepção etimológica (de
mirari : admirar), aí sim poderemos dizer que milagres existem. Existem coisas
admiráveis e surpreendentes que aconteceram, acontecem e acontecerão ainda
neste mundo. Mas tomando a palavra em sua acepção moderna ou teológica, por
assim dizer, como algo que contraria as leis naturais, aí dizemos que milagres
não existem, por tudo que fora exposto acima.
(Saber Espírita)
Nenhum comentário:
Postar um comentário