Há pessoas que procuram na religião a satisfação
utilitarista. Acreditam que a religião deverá lhes dar a vitória, o sucesso, a
felicidade para essa vida, e a salvação eterna para a outra. Hoje, algumas
seitas religiosas pregam isso abertamente, e convidam os que querem deixar para
traz a infelicidade, o fracasso, a se unirem a elas.
Algumas pessoas chegam a dizer, que resolveram mudar de
religião, para serem felizes. No dia a dia dos centros espíritas temos deparados
com essa situação. Muitos o procuram no desejo de obter benefícios imediatos,
como: curas, enriquecimento, conquistas amorosas, anular um desafeto, e outras
coisas mais.
Contudo, a finalidade do Espiritismo não é o de arranjar a
vida das pessoas. Os espíritos superiores, embora nos amem e nos auxiliem, não
são serviçais à nossa disposição para os pequenos interesses humanos.
Quando as pessoas insistem nesses pedidos, e não percebem o
extraordinário novo campo de visão que se lhe abre à frente, acabam por perder
a proteção dos bons espíritos, e os maus, os ignorantes tomam conta da
situação, pois estão sempre prontos a atender a todos os pedidos, mesmo os
injustos. Esses espíritos podem satisfazer certos pedidos, porém cobram muito
caro a satisfação concedida.
Quando Jesus de Nazaré ofereceu a Água Viva do Evangelho
para a mulher samaritana, afirmando que quem bebesse da água que ele oferecia
nunca mais teria sede, a mulher pediu para que o Rabi Galileu lhe desse da tal
água, porque assim ela não precisaria buscá-la diariamente. Ela não compreendeu
que o Mestre não a isentava do trabalho, das lutas evolutivas, do
aperfeiçoamento, mas alargava os seus horizontes espirituais.
O que devemos procurar no Espiritismo? Devemos procurar a
elevada compreensão do processo que é a vida. O Espiritismo oferece essa
compreensão. Ele é, no dizer de Herculano Pires, a plataforma para as novas
conquistas da humanidade.
É proibido, então, à mãe que chora a perda de seu filhinho,
buscar notícias que a console? É proibido ao homem que vê a esposa doente, em
risco de vida, pedir a cura ou a esperança? Aquele que não consegue um emprego
e precisa sustentar a família não pode pedir aos espíritos que o ajude a se
empregar? O homem de negócios que está atormentado pelos fracassos sucessivos,
não pode ir buscar orientação junto a uma casa espírita? Nada disso é proibido,
e é natural que o centro espírita preste esse socorro e vários outros, mas é
preciso que ensine a libertação, ou seja, o conhecimento espírita. É preciso
que compreendam que os espíritos não fazem pelo homem, aquilo que ao homem
compete fazer.
É comum ao ser humano, o desejo de se ver liberto das dores,
angústias e dificuldades. É comum procurarem meios mais ou menos mágicos para
resolver seus problemas. No Espiritismo não poderia ser diferente. Quase
sempre, aqueles que se decepcionam com a Doutrina Espírita e a abandonam, são
os que querem soluções mágicas. Não existem soluções sem esforços, luta,
trabalho.
Não raro a dor, o problema aparentemente insolúvel, é o chamamento
para uma nova postura, um novo caminho, um novo ideal. O fato de sermos
espíritas ou médiuns, não nos dá privilégios, e sim responsabilidades. Não
feche os olhos para a luz. Não peça o que o Espiritismo não lhe pode dar, e não
se decepcionará com ele.
Amílcar Del Chiaro Filho
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