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sábado, 6 de maio de 2017

“ATÉ QUANDO REENCARNAREMOS? ONDE ACABA O CICLO DE CAUSAS E EFEITOS? ”

Nós partimos do pressuposto de que existe uma razão para reencarnar. De acordo com a Doutrina Espírita, a reencarnação é um processo de aprendizado. Existe a Lei do Progresso, e obedecendo a essa Lei nós reencarnamos quantas vezes forem necessárias para o nosso aprimoramento num determinado plano – no nosso caso, o plano físico do planeta Terra.
Esse é o entendimento da Doutrina Espírita. Há outros entendimentos possíveis.
Os budistas, por exemplo, não acreditam exatamente em reencarnação, mas em renascimento – nós podemos renascer em outros seres, inferiores ou superiores a nós. A vantagem de renascer como humano é a possibilidade de alcançar o Nirvana e acabar com o ciclo de renascimentos.
Os antigos gnósticos acreditavam que o plano material é o produto de uma catástrofe cósmica.
Só pra esclarecer: Em 1945 foi descoberta a chamada Biblioteca de Nag Hammadi, uma série de livros predominantemente gnósticos. O gnosticismo vigorou com força nos séculos II e III. Eles achavam que este mundo em que vivemos é um erro, um erro cósmico, e que nós temos que transcender esse mundo através do conhecimento (gnose é conhecimento, em grego).
Mas a nossa referência quando nós falamos em reencarnação é a Doutrina Espírita.
Allan Kardec tratou a reencarnação como dogma. É o que nós vemos na questão 171 de O Livro dos Espíritos. Temos que considerar que não se trata de um dogma religioso, mas de um dogma filosófico. É um princípio sobre o qual se assenta a Doutrina.
Uma coisa que merece ser dita é que Allan Kardec, mesmo depois da publicação da 1ºedição de O Livro dos Espíritos, continuou com dúvidas a respeito da reencarnação. Ele trata desse tema na Revista Espírita de Novembro de 1958 no artigo Da pluralidade das existências corpóreas.
A 1º edição de O Livro dos Espíritos, de 1857, foi produzida a partir das comunicações de alguns espíritos através de três médiuns adolescentes. É importante lembrar isso porque a maior parte dos espíritas (a quase totalidade) acredita que a chamada codificação, que alguns chamam de “pentateuco kardekiano”, foi elaborada a partir de milhares de comunicações e que passou pelo Controle Universal do Ensino dos Espíritos.
Não foi assim. Allan Kardec estabeleceu o Controle Universal do Ensino dos Espíritos como um meio de avaliação para novos pontos doutrinários, mas ele não seguiu esse método no começo do seu trabalho. E como o dogma da reencarnação aparece já no alvorecer da Doutrina, que é a 1º edição de O Livro dos Espíritos, podemos afirmar categoricamente que a reencarnação, para a Doutrina Espírita, é um dogma filosófico. Allan Kardec acata a teoria da reencarnação como um dogma filosófico, não se importando em comprovar a teoria da reencarnação através do Controle Universal do Ensino dos Espíritos.
Allan Kardec não foi pioneiro no estudo das manifestações dos espíritos. O que Allan Kardec fez de inovador foi a elaboração de um corpo doutrinário, mas quando ele tomou conhecimento das manifestações dos espíritos já havia estudos em andamento conduzidos por cientistas reconhecidos na época.
Um dos grandes nomes da época é o cientista e conselheiro imperial russo Alexandre Aksakof. Aksakof foi o primeiro pesquisador a considerar o animismo presente nas manifestações. Quando falamos em animismo estamos falando da participação mais ou menos inconsciente do espírito do próprio médium na comunicação atribuída a um espírito ou na produção de um fenômeno. Aksakof é o autor do livro Animismo e Espiritismo, um clássico publicado até hoje pela FEB.
O que poucos espíritas sabem é que Alexandre Aksakof foi um crítico contundente de Kardec. Uma das críticas de Aksakof a Kardec é que Kardec pulou a fase da experimentação. Kardec preferiu, desde o começo do seu trabalho, logo depois da publicação da 1ºedição de O Livro dos Espíritos, trabalhar com médiuns escreventes. Nós sabemos hoje, em grande parte por causa de Aksakof, que (nas palavras dele) “médiuns escreventes se deixam levar facilmente pela influência psicológica das ideias preconcebidas”.
Paralelamente ao Espiritismo, e tendo iniciado antes do Espiritismo, existia o espiritualismo inglês, ou espiritualismo anglo-americano. Na Inglaterra, especificamente, onde o espiritualismo era bem desenvolvido, e onde muitas experiências foram realizadas, as comunicações dos espíritos afirmavam que não existe reencarnação. Para Kardec, isso se devia ao preconceito dos americanos e ingleses, que não estavam preparados para receber esse ensinamento.
O fato é que a teoria da reencarnação não era unanimidade entre os espíritos que se comunicavam.
Eu não tenho a menor dúvida de que existe reencarnação. Os estudos do Dr. Ian Stevenson atestam a existência da reencarnação. Hoje, com a internet, nós tomamos conhecimento de muitos casos de crianças que têm lembranças espontâneas de suas existências anteriores e contam detalhes irretorquíveis dessas existências.
Eu jamais coloquei em dúvida a existência da reencarnação.
Por que, então, eu mencionei essa controvérsia em relação a Kardec?
Em primeiro lugar, é preciso dizer que nós não tememos a verdade. Quem tem fé sólida não precisa se apegar a um conjunto de crenças.
É verdade que existe reencarnação, mas também é verdade que a maneira como o Espiritismo trata a reencarnação é fruto de um conjunto de crenças – crenças construídas a partir da argumentação filosófica de Kardec.
A reencarnação é tratada, na literatura espírita, como se fosse condição obrigatória para todos; como se fosse o único meio de alcançar o progresso; e como se existisse um ponto determinado a alcançar, e que para alcançar esse ponto seriam necessárias muitas e muitas reencarnações.
Há muitas fantasias no meio espírita. São teorias que foram lançadas por alguém (geralmente por um espírito carismático, como Emmanuel), essas teorias conquistaram a simpatia dos espíritas, passaram a ser repetidas por outros espíritos encarnados e desencarnados, e hoje se tornaram dogmas de fé – ninguém as questiona.
A reencarnação é um fato. Mas o modo como tudo se processa foge ao nosso conhecimento.
– Ah, mas os espíritos disseram!
Os espíritos não sabem tudo. Os espíritos têm suas opiniões formadas, seus preconceitos, suas limitações. Espíritos realmente superiores não conseguem se comunicar conosco.
Além disso, por melhor que seja o médium, ele também tem ideias preconcebidas, limitações e falhas de caráter. Nenhuma mensagem dos espíritos chega até nós com exatamente o mesmo teor com que foi emitida.
Nós temos teorias, nós temos alguns experimentos, nós temos hipóteses de trabalho, nós temos a lógica, e nós temos a intuição – certezas nós as temos poucas.
Mas voltemos à primeira pergunta:
Até quando reencarnaremos?
Uma respostinha padrão seria: “Até quitarmos todos os nossos débitos e aprendermos tudo o que podemos aprender nesse plano físico”.
Será mesmo?          
Por que nós reencarnamos?
Nós reencarnamos por que nossos interesses estão no plano físico. Ainda somos muito animais e pouco espirituais. Nós alimentamos ilusões: ilusões de poder, ilusões de prazer, ilusões afetivas – isso sem falar dos vícios: vício em comida, vício em álcool, vício em drogas, vício em sexo, vício em dinheiro, vício em consumo, vício em jogo, vício em diversão, carência afetiva, doenças… há uma infinidade de coisas que nos prendem ao plano físico.
Buda e Jesus têm um ensinamento em comum: o desapego. O budismo prega o desapego como meio de libertação do ciclo de renascimentos. Jesus ensinou muito sobre o desapego. Esse é um ensino de Jesus que não foi devidamente evidenciado até hoje. Talvez o principal ensino de Jesus seja o desapego, e não o amor, como costumamos pregar.
O mundo material é um mundo de ilusão. Isso eu não acho, isso eu tenho certeza. Nós só nos libertaremos desse mundo de ilusão quando nós pararmos de nos iludir. Falta muito.
Mas isso não quer dizer, necessariamente, que temos uma cota determinada de erros passados a resgatar ou que temos uma cota determinada de aprendizado a assimilar.
E aqui cabe introduzir a segunda pergunta:
Onde acaba o ciclo de causas e efeitos?
Causa e efeito é um fenômeno da mente. A mente é um programa – como um programa de computador. A mente é o programa através do qual nós experimentamos possibilidades. O plano físico é isso: uma experimentação de possibilidades.
Nós programamos a mente e a partir de um determinado momento ela passa a agir sozinha, no piloto automático. Em vez de nos servirmos da mente, então, passamos a ser escravizados pela mente. É a mente que nos mantém escravizados na ilusão.
Se recobrarmos o domínio sobre a mente nós poderemos nos libertar do ciclo de causas e efeitos, por que esse ciclo é produto da mente.
Eu estou falando em “mente”, mas o correto seria falar em “intelecto”. A mente pode ser dividida em duas dimensões: o plano mental superior ou abstrato e o plano mental inferior ou concreto ou, ainda, intelecto. É o intelecto que racionaliza tudo.
O budista que alcança o Nirvana através da meditação ultrapassa o intelecto. Ele se desapegou da ilusão, então não precisa mais renascer, e se libertou do ciclo de causas e efeitos, pois foi além do intelecto.
Nós vemos em Nosso Lar que André Luiz, depois do seu primeiro dia de trabalho nas câmaras de retificação, vai para um aposento para dormir. Quando ele dorme se vê transportado para uma dimensão superior. Ele tem plena consciência de que deixou o seu corpo astral adormecido no aposento – então ele é desdobrado para o plano mental. Lá ele encontra a sua mãe. A mãe de André Luiz já vivia numa dimensão superior – provavelmente o plano mental inferior.
A mãe de André Luiz tinha sido, ao que tudo indica, uma pessoa normal – e vivia em uma dimensão superior.
Ainda em Nosso Lar nós temos o exemplo da Ministra Veneranda, que estava há mil anos supervisionando um grande grupo de espíritos, uma grande família espiritual.
Ela já não precisava mais reencarnar. Podia estar vivendo num plano superior, em grande paz, mas sacrificava a sua paz individual para trabalhar em benefício daqueles pelos quais ela se sentia responsável.
Eu intimamente tenho convicção de que não é assim tão difícil cessar o ciclo reencarnatório. Acontece que nós vivemos numa cultura judaico-cristã. Para um budista ou para um hinduísta não há nada de errado no fato de o indivíduo seguir o seu caminho: abandonar o mundo, as coisas do mundo e as pessoas – e seguir o seu caminho.
Mas, para o cristão, isso pode parecer egoísta. Nós nos questionamos:
– Como pode alguém viver em paz, numa dimensão superior, sabendo que os espíritos que foram seus filhos, seu cônjuge, pais mães, irmãos, continuam aqui sofrendo nesse mundo de ilusão?
É uma questão difícil. Não há dúvida de que a decisão da Ministra Veneranda, de permanecer supervisionando os seus espíritos queridos, é uma decisão meritória, bonita.
Mas eu também não veja nada de errado em cada um seguir o seu caminho. Quem se libertou da ilusão já não tem pena daqueles que ficam – pois essa pena também é uma forma de apego. Ele compreende perfeitamente que tudo isso é passageiro, e que mais cedo ou mais tarde cada um descobre a verdade e também se liberta.
Uma dúvida pode surgir:
– Se alguém conseguir se desapegar de tudo no plano físico ele pode se livrar do ciclo reencarnatório e do ciclo de causas e efeitos mesmo não tendo reparado o mal que fez para os outros?
Quem consegue se desapegar é porque já tem conhecimento suficiente acerca da ilusão do mundo e não tem males significativos a reparar. Uma mente culpada não consegue se desvencilhar da ilusão.

Morel Felipe Wilkon

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