Uma das maiores tristezas que pode
vivenciar o espírito que acabou de desencarnar é ver e sentir, do plano
espiritual, o que seus filhos ou parentes mais próximos fazem pela herança que
ele deixou.
Em O Livro dos Espíritos se diz que o
espírito desencarnado, que acabou de ascender à pátria espiritual, pode ver e
sentir claramente as ações e comportamentos dos seus parentes e das pessoas
mais próximas. O espírito pode não apenas ver tudo, como sentir tudo o que
acontece. Ele pode captar facilmente o sentimento daqueles que ficaram. Pode
sentir a emoção de cada um em seu próprio enterro; pode desvendar as intenções
mais ocultas de cada um dos presentes; pode perceber de forma transparente a
falsidade daqueles que antes lhe sorriam e agora agradecem sua partida; pode
entrever com exatidão o interesse mesquinho daqueles que ficaram na Terra e só
pensam em bens e dinheiro; pode também sentir o desprezo que cada pessoa tem
por ele, as más intenções e pode captar com clareza o desejo pelo desencarne
rápido para que assim o encarnado possa ter acesso a herança.
O recém-desencarnado finalmente
percebe as futilidades da vida humana; ele vê como é a vida espiritual e
entende como a vida na matéria era apenas um campo de miragens, de ilusão, onde
tudo passa e onde nada é eterno. Por isso, ele compreende dentro de si o quanto
as brigas terrenas pelo dinheiro, pelo poder, pelas posses, por estar certo,
por fazer tudo do seu jeito, pela fama, pelo sucesso, etc… o quanto tudo isso é
desnecessário e não traz nada de positivo ao espírito. Ao ter contato com a
realidade espiritual ele percebe um universo de infinitas possibilidades que se
descortina diante dele… Dessa forma, ele constata o caráter banal e pueril das
brigas pelos bens materiais.
O espírito toma consciência de um
reservatório infinito de bênçãos espirituais que existe a sua disposição…
aquilo que podemos descrever como a paz infinita e a felicidade infinita.
Apenas para efeito de comparação, é possível comparar a vida espiritual com um
oceano imenso… e as coisas que tanto valorizamos na terra como sendo apenas um
copinho de água. Esse copinho de água não mata nossa sede e mesmo depois que o
bebemos, após um tempo já estamos com sede novamente. O espírito que percebe
seus filhos e parentes brigando pela herança que ele deixou se entristece
muito, pois considera essa briga semelhante a duas pessoas se digladiando por
um pequeno copinho de água ao lado de um oceano sem limites. Como ainda não
percebem o oceano infinito ao seu lado, eles se matam pelo copinho de água que
não sacia sua sede. Ao invés de matarem sua sede com as águas sagradas da fonte
universal da vida, eles ficam brigando pelo copinho de água, que simbolizam os
bens materiais, o sentimento de posse, o egoísmo, o orgulho, a boa fama, o
desejo pelo elogio, o desejo pelo afeto, o apoio emocional em coisas e pessoas,
as brigas, disputas e exigências que o ego faz para se satisfazer, etc.
O espírito que agora compreende as bênçãos
infinitas de Deus vê tudo com tristeza, porém se é um espírito mais elevado,
não se deixa abalar por isso… Ele compreende que os encarnados enfurecidos
pelas disputas de herança ainda tem um longo caminho pela frente em sua
aprendizagem e quanto mais tempo demorarem para perceber a pequenez de tudo
isso… mais vão sofrer no vale da lágrimas da existência material. O espírito
finalmente consegue compreender o quão estéril são essas brigas… ele vê tudo
tal como o adulto percebe a briga de duas crianças que se batem para ver quem
vai ficar com o doce… Briga essa que não tem a menor importância diante de tudo
o que elas têm pela frente em suas vidas.
Não se esqueça que os espíritos
desprendidos da matéria podem ver e sentir tudo o que se passa conosco; eles
captam até mesmo nossas mais ocultas intenções. Eles enxergam com clareza
nossas falsidades, nossa ganância e o caráter medíocre de nossas disputas pela
herança e por todas as demandas da vida material. O que os espíritos costumam
dizer a esse respeito é que ninguém deveria se rebaixar por tão pouco… ninguém
deveria se materializar mais do que já está materializado… nenhum espírito
encarnado deveria se preocupar com questões tão pequenas e grosseiras… e se
desentender, se digladiar, se desrespeitar ou ficar aflito para receber os bens
daquele que se foi… Isso não apenas entristece o espírito que já não está mais
entre nós, como nos degrada moralmente e espiritualmente.
(Hugo Lapa)
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