A mediunidade infantil é um tema que
instigou e ainda instiga alguns pesquisadores espiritualistas. Até mesmo Allan
Kardec se preocupou em abordar o tema em O Livro dos Médiuns.
O cinema soube explorar muito bem
este tema por meio da película O Sexto Sentido, onde o garoto de 8 anos, Cole
Sear, interpretado pelo ator Haley Joel Osment, é um médium que vê,
constantemente, “pessoas mortas” que lhe procuram em busca de ajuda para
solucionar assuntos mal resolvidos, pendências que lhes afligem o coração.
Mas as estórias de crianças médiuns
não ficam apenas na ficção. Temos relatos de médiuns famosos, como o nosso
querido Chico Xavier, que desde os 5 anos de idade conversava com sua mãe,
desencarnada, que o socorria quando sua madrinha lhe infligia maus tratos. A
consagrada médium Yvonne Pereira manifestou sua mediunidade ainda criança, e
aos quatro anos já falava com espíritos.
Divaldo Pereira Franco, médium e
palestrante espírita, declara ver espíritos desde criança, e que, aos quatro
anos de idade viu a avó desencarnada, Dona Maria Senhorinha. Inclusive, Divaldo
Franco tinha como companheiro na infância um indiozinho de nome Jaguaruçu.
Conforme sua declaração “Jaguaruçu me apareceu quando eu contava cinco anos e
se apresentava com a mesma idade que eu. À medida que eu crescia, ele também.
Brincávamos, corríamos e conversávamos muito, a ponto de os meus familiares
ficarem estranhando eu conversar, sorrir e correr sozinho. Eu lhes falava, mas
só minha mãe acreditava.
Quando eu completei doze anos, ele me
disse que iria preparar-se para reencarnar, o que me causou uma grande dor e um
susto, por identificar que ele não era uma criança física. Posteriormente,
quando eu comecei a exercer a mediunidade com a consciência doutrinária, ele se
comunicou várias vezes em nossas reuniões até 1949, quando anunciou que iria
reencarnar. Eu o reencontrei na sua nova jornada e nos identificamos muito. Ele
viveu 38 anos e já desencarnou, continuando a aparecer-me, porém, agora com as
características da existência recentemente encerrada”.
Não podemos esquecer-nos de ressaltar
as irmãs Fox: Kate, então com onze anos e Margareth, com catorze. Elas deram
uma contribuição memorável aos estudos do mundo espiritual, a partir do momento
que passaram a ouvir sons semelhantes a arranhões nas paredes, assoalhos e
móveis em sua casa, no vilarejo de Hydesville, Estado de New York. A partir
daí, Kate, em sua astúcia de criança, desafiou o mundo invisível se comunicando
com os espíritos por meio de estalos de dedos, no qual a resposta foi imediata.
A cada estalo, um golpe era ouvido a seguir. Assim, estabelecia a “telegrafia
espiritual”, acontecimento histórico ocorrido na noite de 31 de março de 1848.
Em janeiro de 2007, a revista IstoÉ
fez uma matéria de capa intitulada Mediunidade Infantil – Crianças que falam
com espíritos. Nesta matéria, pudemos ler como a Ciência vê estes fenômenos. A
psicanalista Ana Maria Sigal, coordenadora do grupo de trabalho em psicanálise
com crianças, do Instituto Sedes Sapientiae, tem a seguinte visão: "Há momentos
em que a ilusão predomina e a criança transforma em real o que é apenas o seu
desejo inconsciente. Ao brincar com um amigo imaginário, ela nega a solidão e
cria um espaço no qual é dona e senhora.
Já falar com parentes falecidos é uma
forma de negar uma realidade dolorosa e se sentir onipotente, capaz de reverter
a morte". Esta opinião não é unânime na medicina, pois como sabemos há
médicos adeptos ao Espiritismo, tendo uma visão mais ampla e cuidando, também,
do lado espiritual do paciente.
Mas, até que idade uma criança
poderia apresentar a mediunidade de forma espontânea e ostensiva? Richard
Simonetti, conceituado escritor e palestrante espírita, explica que “até os
sete anos, antes que complete o processo reencarnatório, o espírito conserva
algumas percepções espirituais e pode ter experiências de contato com o Além,
sem que seja propriamente um médium. Essa sensibilidade tende a desaparecer e
vai ressurgir na adolescência, se ela realmente tiver mediunidade”.
E como saber se a criança é realmente
médium ou se o que ela narra é fruto de sua imaginação? Simonetti esclarece que
“em princípio, é difícil definir. O melhor é não interferir, tratando com
naturalidade a criança. A tendência é o fenômeno desaparecer, quer porque a
criança se desinteressou em relação ao amigo imaginário, quer por que perdeu o
contato com ele, a partir da consolidação reencarnatória”.
Não é sempre que uma criança médium
tem visão de coisas boas, como um ente querido ou um amigo espiritual. Temos
casos em que a visão é de antigos desafetos de vidas passadas, que procuram
prejudicá-la em busca de vingança.
Quando a criança não é compreendida
pelos pais, sendo considerada como louca perturbada ou vítima do demônio, a
situação pode se complicar, trazendo como agravante profundos desequilíbrios
psicológicos e emocionais. Vale ressaltar que muitas crianças só voltam a ter
uma “vida normal” quando passam a frequentar um centro espírita, recebendo os
benefícios dos passes, das palestras e do culto do evangelho no lar.
A mediunidade, em certos casos, pode
ser provocada, o que não é aconselhável de maneira alguma no caso das crianças.
Agnes Henriques, autora do livro Mediunidade em Crianças, escreveu em sua obra
que em determinada época de sua infância participou da brincadeira do copo.
Esta brincadeira tem as letras do alfabeto em pedacinhos de papel, um copo no
centro, e por meio de invocações a espíritos aguarda-se que alguma entidade
responda as indagações, enquanto um dos participantes permanece com a mão
imposta em cima do copo que circula pelas letras.
Ela conta: “Quando pequena,
presenciei através de uma sessão dessas a descoberta de um assassinato. Em mim
já se apresentavam indícios de faculdades mediúnicas. Eu ouvia vozes, via
algumas entidades, chegava a responder quando me chamavam nominalmente. Minha
mãe, sempre nessas horas, me incentivava a orar. Muitas vezes orava comigo e eu
saía tranquila sabendo que era um acontecimento normal. Eu já havia sido
alertada por ela da seriedade que deveríamos estar revestidos quando no trato
com os espíritos, e sempre me afastava dos meus amigos quando eles resolviam
brincar com o famoso copo”.
Eu tinha uma vizinha que sempre
reclamava que dormia mal, pois sua filha de 3 anos, chorava a noite toda,
parecia ver algo que a assustava muito. Depois de algum tempo, convidei-a a
levar sua filha no centro espírita que frequentava. Naquela ocasião, quando a
menina ia entrar na cabine de passes, ela gritava e segurava no portal com
muita força. O pavor era visível em seu rosto. Toda semana ela levava a filha
neste centro e até o terceiro passe a menina agia do mesmo jeito. A partir da
quarta vez ela foi ficando mais amistosa, e daí por diante não mostrou mais
resistência ao tratamento, passando a dormir bem a noite toda.
Em uma entrevista pelo Centro Virtual
de Divulgação e Estudo do Espiritismo, quando foi perguntado sobre o
procedimento adequado diante de uma criança que vê constantemente determinada
entidade e que se sente mal toda vez que recebe o passe, Agnes Henriques
respondeu que “Normalmente nesses casos, a energização pelo passe, a água
fluída e a oração são poderosos instrumentos de que se vale a espiritualidade
na solução do problema (...). Os pais devem mostrar-se aptos a efetuar mudanças
na conduta diária em seu recinto doméstico. Tudo que for para elevação do
padrão vibracional deve ser cultivado, ao mesmo tempo em que se esforcem para
afastar toda conduta que levar ao contrário (...).
Se o pequenino demonstrar medo, é bom
que os pais o acompanhem nas sessões necessárias ao tratamento espiritual, até
que ele se acostume e encare com naturalidade tal fato. O ambiente da cabine de
passes, ou locais destinados para tal, apesar de serem locais simples,
destituídos de muita decoração, pode ser intimidante para uma criança que já
deve estar assustada com os fatos que porventura estiverem lhe acontecendo.
Normalmente, logo elas se acostumam, desde que os pais estejam tranquilos e
passem para elas essa tranquilidade”.
Vale ressaltar que o apoio familiar é
de vital importância para que a criança consiga superar esta primeira fase da
infância, quando poderá, na fase seguinte (dos 8 aos 12 anos), ter o
conhecimento doutrinário e esclarecedor, caso a família venha a frequentar um
centro espírita que lhe proporcione este estudo, desenvolvendo assim,
futuramente e com segurança, a mediunidade que porventura continue a se
manifestar.
A falta de preparo de alguns
pedagogos em lidar com a mediunidade faz com que as crianças não recebam a
devida atenção que merecem. Infelizmente, ignorar o problema ou fingir que ele
não existe é a saída mais prática para os educadores e a família. A escritora e
ilustradora de livros infantis, Rita Foelker, que também psicografa obras
mediúnicas, esclarece que: “A criança, como espírito encarnado, é naturalmente
médium, sujeita a influências sobre seu humor e seu comportamento.
Se os educadores aprendessem a lidar
com essa realidade, muita coisa seria diferente, não só na sala de aula, como
nas reuniões de pais e no encaminhamento de situações que, atualmente, dão
trabalho e deixam os professores sem saber o que fazer. Algum dia será assim,
mas quem começa a levar a realidade espiritual em conta tem visão de futuro e
está alguns passos à frente”.
Vários são os cuidados que se deve
ter quando os pais notarem a mediunidade na criança, mas um é primordial e vale
a pena repetir: jamais estimular a criança a desenvolver a mediunidade. Outras
precauções também são importantes: não valorizar excessivamente o fenômeno; não
ridicularizar a criança, pois pode deixá-la nervosa, provocando o seu
afastamento e causando outros problemas; não demonstrar medo, o que irá deixar
a criança insegura; e desacreditar simplesmente, sem apurar os fatos, pode
deixá-la se sentindo mentirosa.
correto é prestar bem atenção nestas mudanças
de comportamento da criança, analisando se suas visões são reais ou fazem parte
de um mundo de fantasias, influenciadas por programas de televisão ou por
necessitarem de afeto e atenção. A terapêutica espírita é muito eficaz nestes
casos, e quando os pais não conhecem o assunto, o centro espírita tem pessoas
capacitadas para a devida orientação e encaminhamento ao tratamento.
A mediunidade, para ser estimulada,
não necessita de uma idade precisa. Tudo depende inteiramente do
desenvolvimento físico e, ainda mais, do desenvolvimento moral, mas sabemos que
para tudo na vida há o momento certo. Para finalizar, aconselho a todos os que
desejam um aprofundamento maior no assunto, o estudo de O Livro dos Médiuns, de
Allan Kardec.
Texto original publicado na Revista Cristã de
Espiritismo, edição nº 48, ano 2007.
Fonte: Espiritbook