Antes de
entrarmos no mérito da questão, necessário se faz a conceituação da palavra
alma, para que nosso pensamento seja claro e objetivo, embasado no bom-senso
kardequiano, através da magistral “Introdução ao Estudo da Doutrina dos Espíritos”,
inserida em “O Livro dos Espíritos”, onde no inciso II, explica o Codificador
Espírita:
“Segundo
uns, a alma é o princípio da vida material orgânica. Não tem existência própria
e se aniquila com a vida: é o materialismo puro”.
Com esta
conceituação de alma, poderíamos dizer que as plantas, os animais e os homens
teriam alma, mas incorreríamos em erro, pois com essa opinião estaríamos
fazendo da alma efeito e não causa. Outra opinião seria:
“Pensam
outros que a alma é o princípio da inteligência universal do qual cada ser
absorve uma certa porção”.
Com esta
opinião, espiritualista panteísta, descartaríamos o materialismo, mas, não
resolveríamos a questão, pois, seríamos como gotas no oceano, sem
individualidade, sem consciência de nós mesmos, seríamos centelhas da grande
alma universal. Apesar de diferir da opinião procedente por não confundir
princípio vital com princípio espiritual, os profitentes desta crença não
explicam, complicam, pois confundem o todo com as partes ou o contrário se
preferirem.
E para
finalizarmos vamos a terceira opinião:
“Segundo
outros, finalmente, a alma é um ser moral, distinto, independente da matéria e
que conserva sua individualidade após a morte”.
Sem dúvida
esta é a opinião mais aceita e vai ao encontro das crenças instintivas, aceita
na antiguidade e atestada por historiadores e antropólogos. Nem materialismo,
nem panteísmo, mas espiritualismo, porque a alma deixa de ser efeito e passa a
ser causa.
Daí conclui
o Codificador:
“A fim de
evitar todo equívoco, seria necessário restringir-se a acepção do termo alma a
uma daqueles ideias. A escolha é indiferente; o que se faz mister é o
entendimento, entre todos, reduzindo-se o problema a uma simples questão de
convenção. Julgamos mais lógico tomá-lo na sua acepção vulgar e por isso
chamamos ALMA ao Ser imaterial, e individual que em nós reside e sobrevive ao
corpo”.
Diante do
exposto podemos avaliar a questão, concluindo que o termo “alma”, é ambíguo,
pois, não expõe uma opinião ou sistema, mas sim, um proteu, como expõe o
Codificador espírita nas linhas claras e precisas do seu pensamento.
E para maior
clareza da tese em questão, Allan Kardec, o Espírita por excelência, encerra
este assunto polêmico com as palavras:
“Evitar-se-ia
igualmente a confusão, embora usando-se do termo alma nos três, desde que se
lhe acrescentasse um qualificativo especificando o ponto de vista em que se
está colocado, ou a aplicação que se faz da palavra. Esta teria, então, um
caráter genérico, designando, ao mesmo tempo, o princípio da vida material, o
da inteligência e o do senso moral, que se distinguiriam mediante um atributo,
como os gases, por exemplo, que se distinguem aditando-se ao termo genérico as
palavras hidrogênio, oxigênio, ou azoto. Poder-se-ia, assim, dizer, e talvez
fosse o melhor, a alma vital – indicando o princípio da vida material; a alma
intelectual – o princípio da inteligência, e a alma espírita – o da nossa,
individualidade após a morte. Como se vê, tudo isto não passa de uma questão de
palavras, mas questão muito importante quando se trata de nos fazermos
entendidos. De conformidade com essa maneira de falar, a alma vital seria comum
a todos os seres orgânicos: plantas, animais e homens; a alma intelectual
pertenceria aos animais e aos homens; e a alma espírita somente ao homem.”
Se as
instruções dadas por Allan Kardec, fossem incorporadas no estudo metódico de
todas instituições espíritas, questões como essa, não seriam motivo para
discussões intermináveis dos detentores da palavra inflamada que incendeia os
meios ditos espíritas, que valoriza o romance preterindo as obras básicas da
Codificação em completo alienamento da Doutrina Espírita.
Mas, afinal,
os animais tem alma?
Deixaremos a
resposta em pauta, para os Espíritos superiores, que nas questões 597 e 598 de
“O Livro dos Espíritos”, diante das perguntas de Kardec, advertem:
“Pois que os
animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação,
haverá neles algum princípio independente da matéria?
- Há e que
sobrevive ao corpo.
Será esse princípio uma alma semelhante à do homem?
- É também
uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que se der a esta palavra.
É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem
distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus.
Após, a
morte, conserva a alma dos animais a sua individualidade e a consciência de si
mesma?
“Conserva
sua individualidade; quanto à consciência do seu Eu, não. A vida inteligente
lhe permanece em estado latente.”
Sem
comentários, encerramos, esperando que o bom-senso kardequiano e a sabedoria
dos Espíritos superiores, ilumine nossa casa mental, tocando os nossos
corações, porque somos seres em evolução e o que realmente importa é o respeito
a vida em todos os níveis.
(Publicado
no CORREIO FRATERNO DO ABC, Ano XXXIV, Nº 370, Novembro de 2001 e republicado
no Nº 374, Março de 2002)
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