Os dogmas
são matérias de fé e de verdade, dizem-no sempre os teólogos. E, no passado,
quem negasse uma doutrina dogmática, morria na fogueira da Inquisição. Eles,
pois, se firmaram no cristianismo pela força e não pela razão. E o
cristianismo, de evangélico que era, tornou-se mais dogmático, o que é
lamentável, pois os dogmas são doutrinas polêmicas. E são polêmicas porque elas
não têm base na Bíblia, que, muitas vezes,
foi alterada pelos seus tradutores, a fim de ficar de acordo com os
dogmas.
E uma das
maiores polêmicas dogmáticas é a do Espírito Santo ou Terceira Pessoa
trinitária. Até Tertuliano (2º e 3º séculos), Doutor da Igreja, tornou-se
herege por ter defendido o montanismo, doutrina de Montano, para quem o
Espírito Santo tinha atuação perpétua.
O Deus
bíblico e de Jesus, Pai Dele e de todos nós, é que o Espírito Santo ou Santo
Espírito verdadeiro, ou seja, o número um, o Criador incriado e Rei Soberano do
Universo. A Doutrina Espírita o chama de Causa Primeira de Todas as Coisas ou
Inteligência Suprema. Para são Tomás de Aquino, Deus é o único Ser Incontingente
(que não procede de outro) e todos os demais seres são contingentes
(procedentes de outros).
Todos nós
somos espíritos criados por Deus. Por isso somos também espíritos santos. E, na
Bíblia, nos seus originais do Velho Testamento e do Novo, respetivamente, em
hebraico e grego, quando se diz espírito santo, frequentemente, é “um” espírito
humano. Mas os teólogos puseram “o” Espírito Santo e com as iniciais
maiúsculas, para significar apenas o da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade,
o que é lamentável, pois é uma grave falsificação da Bíblia.
E eis um
exemplo de que espírito santo na Bíblia, realmente, refere-se também ao
espírito santo humano: “Enquanto era levada para ser morta, Deus suscitou o
espírito santo de um rapaz muito jovem chamado Daniel.” (Daniel 13: 45, da
Bíblia Católica). Para mais detalhes, recomendo, entre outros livros de vários
biblistas e teólogos espíritas e não espíritas, o meu, numa linguagem
jornalística clara ao estilo da desta coluna em O TEMPO: “A Face Oculta das
Religiões”, Editora EBM, lançado também em inglês nos Estados Unidos pela
“Outskirts Press”, Denver (Colorado), 2015.
Esta matéria
não é uma blasfêmia contra o Espírito Santo, que segundo Jesus não tem perdão
nesta vida nem em outra futura. É que esse pecado é contra a nossa voz
interior, a voz do nosso próprio espírito santo ou alma que habita em nós. Não
se trata também de negar a sua existência, pelo contrário, aceitamos até mais
de um Espírito Santo. E, apenas, tentamos esclarecer o que ele é à luz da
Bíblia.
De fato,
pela Bíblia, ele é o próprio Deus, mas pode designar também como vimos o
espírito santo (a alma) que habita em cada um de nós. Por isso, dizemos que,
biblicamente, às vezes, é como se ele fosse também uma espécie de coletivo
designando o conjunto de todos os espíritos humanos. E vimos também o Espírito
Santo dogmático, que é a Terceira Pessoa trinitária, que é o mais falado pelos
líderes religiosos e que respeitamos. Mas ele é o mais polêmico, pois qual
seria ele, o Deus Pai da Bíblia que Jesus ensinou ou a Terceira Pessoa
trinitária?
Essa
confusão sobre o Espírito Santo dogmático prejudica seriamente o conceito do
Deus cristão!
Fonte:
Portal do Espírito.
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